A guerra comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o mundo, até aqui, não preocupa o polo industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM).
Ao contrário, a indústria do Amazonas, que faturou R$ 204,39 bilhões (US$ 37,5 bilhões) em 2024, já observa o tarifaço de Trump como oportunidade de negócios.
Otimistas
Há dois fatos concretos que embasam esse otimismo no polo industrial da ZFM.
O primeiro deles foi a sondagem à Superintendência da ZFM (Suframa) de marcas industriais que produzem no México.
O país foi um dos primeiros afetados pela caneta de Trump. Acontece que os EUA são (ou eram) o grande parceiro comercial dos mexicanos.
Mas, com as tarifas americanas, essas indústrias do México estão buscando novas praças.
Noutro país, elas querem manter a produção e voltar a vender para os EUA.
A primeira base industrial que essas empresas transnacionais miram, portanto, é a de Manaus.
Além de estar mais perto dos americanos, a ZFM tem aquilo que as empresas mexicanas, assim como de todo o mundo, mais gostam: incentivos fiscais.
O presidente da Eletros, José Jorge do Nascimento Júnior, não revela o nome, mas diz que empresas do setor que representa, o de eletroeletrônica, estão em busca de informações sobre a indústria do Amazonas.
“Já nos procuraram para buscar entender como funciona a tributação na Zona Franca de Manaus, como é que é o modal de exportação para os Estados Unidos”.
Para ele, geograficamente, o Amazonas tem vantagem tanto na relação dentro do país quanto a outros países da região.
“Nós temos um potencial estratégico pela nossa localização de exportação para atender a América do Sul, a parte norte da América do Sul, mais a América Central e até mesmo os Estados Unidos”.
Nascimento Júnior, contudo, observou que o Brasil precisa se preparar para esse potencial que pode se abrir com as medidas imperialistas de Trump.
“Nós precisamos construir estruturas visando a exportação e também os acordos comerciais com esses países, para a gente poder fazer a exportação a partir da Zona Franca de Manaus”, disse o executivo da Eletros.
“Temos um mundo de oportunidade aí. Então, o Governo do Estado do Amazonas está atento, o governo federal está atento, a Superintendência da Zona Franca de Manaus está atenta, para que a gente possa atrair mais negócios, diversificar esses negócios, focando também na exportação”.
Insumos baratos
Outro fato que anima o polo industrial é a oferta de insumos usados na ZFM.
Economistas do Amazonas dão como exemplo o aço e o alumínio.
Com a taxação de Trump, o mercado global procurará outros países.
Nesse sentido, as fábricas da ZFM, que usam essas matérias primas para produzir, por exemplo, motos, bicicletas e ar-condicionados, podem comprá-las mais baratas.
A lógica, explicam eles, é o aumento da oferta, que pode baixar os preços.
Tranquilidade
O presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, observa o tarifaço de Trump com tranquilidade.
“As taxações protecionistas de Trump, por enquanto, não afetam a ZFM. Não está na relação de aumento de tarifas de exportação para os EUA nenhum produto fabricado pelo polo industrial de Manaus”, disse o líder empresarial.
Silva também observa os números da balança comercial.
“O que vendemos no ano passado para lá representa apenas 6,13% das nossas exportações, equivalente a US$ 56,5 milhões, o que é pouco para quem tem um faturamento acima de US$ 37 bilhões”.
Todavia, o presidente da Fieam disse estar atento à dinâmica do mercado.
“A economia e a política são bastantes dinâmicas. Por isso, estaremos alertas para qualquer novidade que afete o nosso desempenho”.
Cautela
Na Suframa, o tom sobre o tarifaço de Trump é o mesmo da Presidência da República: cautela.
O superintendente Bosco Saraiva afirmou que a ZFM já tem experiência com Trump.
“Nossos economistas afirmam que essas medidas são similares àquelas tomadas no primeiro governo desse presidente americano e que, após várias negociações com nossos embaixadores do setor comercial, os acordos ficaram a contento do Brasil. Portanto, recomendam que nos acautelemos e aguardemos os avanços que nosso Itamarati deverá conquistar proximamente junto ao atual governo americano”.
Fonte: BNC Amazonas.