O recrudescimento pandemia atingiu em cheio pequenas e médias empresas que já estavam muito debilitadas financeiramente depois de um ano enfrentando as medidas restritivas impostas na tentativa de conter a contaminação por Covid-19.
Segundo dados da 10ª edição da pesquisa “O Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, feita pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) desde o início da crise sanitária, 6 em cada 10 empresas tiveram no ano passado um faturamento anual pior que o de 2019.
Em 2021, a situação piorou. Segundo a pesquisa, pela primeira vez houve uma interrupção na lenta recuperação que o Sebrae vinha observando ao longo do ano passado.
“Em abril de 2020, registramos uma queda de 70% no faturamento, e isso foi se recuperando ao longo dos meses, até chegar a 34% em novembro. Na última pesquisa, referente ao início de março, a queda no faturamento foi para 40%. Neste mês deve ser ainda pior”, afirma Alberto Vallim, analista de competitividade do Sebrae.
Para os empresários, o cenário beira o desespero. Fabio Amorim, proprietário da Bolinha Studios, empresa fundada há 15 anos para a fabricação de fantasias e mascotes para feiras, eventos e festas, teve que se reinventar.
“Está bem desesperador. Nunca vivemos nada parecido. Me considerava bastante pessimista de achar que 2020 estava o ano inteiro contaminado. Mas estou achando que neste ano também está. Até pela demora da liberação de ajuda do governo”, afirma ele.
Amorim diz que não conseguiu no ano passado acesso ao Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), iniciativa que libera crédito de baixo custo a pequenos empresários, e nenhuma das outras linhas de crédito oferecidas pelo governo.
“Não conseguimos nenhuma. O Pronampe bateu no banco. Tive que recorrer a empréstimo normal, com juros altos, e vamos ter que pegar mais neste ano. Não existe facilidade sem garantia. O banco pede o faturamento dos últimos 12 meses, e o meu foi praticamente zero”, diz ele.
Na pesquisa do Sebrae, a extensão das linhas de crédito é a medida governamental mais importante para 2021, apontada por 45% das empresas que responderam ao questionário. Em segundo lugar, citado por 26% dos entrevistados, está a extensão do auxílio emergencial.
A falta de crédito e de perspectiva obrigou Amorim a demitir todos os seus 15 funcionários da fábrica de fantasia. “Nosso negócio é juntar pessoas, e isso não pode acontecer, mas não tem muito o que fazer. Por isso, estamos migrando para o online. Tínhamos a ideia de ficar velhinhos e ensinar as nossas técnicas, mas acabamos adiantando esse processo e vamos lançar cursos online. O que era um projeto para a aposentadoria será o nosso negócio central”, diz ele.
Ele admite que se entristece de ter que ensinar suas técnicas para os concorrentes, mas afirma que ficou sem saída. “Somos uma pequena empresa, e nesse ramo é normal que as pessoas guardem o conhecimento. Mas nos encontramos no meio disso tudo, nosso faturamento, que era cerca de R$ 100 mil por mês, agora praticamente zerou”.
Quem também teve que se reinventar foi Eduardo Mota, proprietário da Alegremente, um espaço de brincar em Guarulhos, na grande São Paulo. Ele investiu R$ 150 mil para abrir a empresa em agosto de 2019 e o negócio estava próximo do equilíbrio financeiro quando a pandemia chegou.
No início da quarentena, em março de 2020, ele criou caixas com brinquedos e atividades para que as crianças pudessem fazer em casa. O negócio foi um sucesso, e a empresa seguiu dando lucro nos primeiros meses. “Mas aí a concorrência foi copiando, e a demanda diminuiu muito. Só voltei a ter receita em novembro. E janeiro e fevereiro de 2021 foram meses muito bons, mas aí fechou tudo e quebrou minhas pernas”, diz ele.
Assim como Amorim, ele não conseguiu acesso a nenhuma linha de crédito oferecida pelo governo. “Tentei no Banco do Povo [do estado de SP] e em bancos privados, mas acabou não dando certo. Tudo o que me ofereceram tinha juros muito altos. Tive que vender um terreno, que foi o que me segurou até agora”.
Mota negociou com o proprietário do imóvel que aluga – conseguiu um desconto de 40% – e demitiu as duas funcionárias fixas que mantinha. Ainda assim, segundo suas projeções, caso as medidas de restrição continuem, ele terá que fechar as portas de seu negócio em junho. “É até quando eu consigo segurar sem nenhum tipo de ajuda”.
As demissões nas duas empresas também estão refletidas na pesquisa do Sebrae. “No ano passado, 14% das empresas tinham demitido algum funcionário. Agora voltou para 19%. É o maior índice registrado desde o começo, em julho, que foi quando 17% das empresas declararam ter demitido alguém nos últimos 30 dias”, diz Vallim, do órgão.
Outra reclamação constante entre as empresas são o aumento de preços e a escassez de matéria-prima. É o caso de Humberto Gonçalves, proprietário da Tec-Stam, empresa de arruelas e parafusos de São Paulo que existe há 25 anos. Embora ele tenha conseguido manter seu faturamento e acesso a linha para financiar a folha de pagamento, Gonçalves diz que o preço do aço triplicou no último ano. “Isso quando encontra”, diz.
Ele afirma que chegou a perder contratos por causa da alta do preço e da falta de aço. “Tive que repassar o preço para meu clientes”.
Fonte: Amazonas Atual