Responsabilidade Social do Marketing II

Para aqueles que ainda acreditam tratar-se de um exagero a abordagem anterior que aponta que o marketing está longe do seu objetivo de entregar valor, satisfazendo o cliente em forma de benefício, de modo que agregue ao público interessado, vamos enriquecer a discussão.

O marketing, que está encarregado de desenvolver processos para atingir os objetivos já mencionados, consegue produzir fórmulas mágicas e milagrosas para fazer-nos acreditar que precisamos disso ou daquilo, de que é importante consumir cada vez mais, sem limites, não importa o que seja e que efeitos possam trazer. Disso, decorrem alguns fabulosos exemplos dessa visão de “entrega de valor e benefício satisfatórios”:

Você é induzido a consumir desenfreadamente refrigerantes que contêm 16 colheres de açúcar em 500 ml. Você fica alucinado para consumir aqueles biscoitos, pães e bolos lindos cujos carboidratos estão recheados de açúcares em alto índice. Até no cigarro você vai encontrar açúcar!

A medicina menciona que quanto mais açúcar você ingere, seu organismo cria um nível de “necessidade” em escala elevada, escravizando-o (em outras palavras, indução ao vício), haja vista que num determinado patamar uma quantidade inferior não será suficiente para saciar sua vontade. Da mesma forma, você é seduzido a consumir alimentos com alto nível de gordura. Dos males decorrentes da gordura você está “saturado”. Sem falar no absurdo de sal (sódio) contido nos alimentos e bebidas. Sabe aquela batata industrializada? Tem 14 vezes mais sódio que o limite diário recomendável! Ou 1400% acima do tolerável.

Haverá quem diga que todos têm o direito de escolha, de optar pelo o que lhe for mais benéfico e saudável. Desde que tenhamos opções equivalentes, é claro!

Na onda do “incentivo” à saúde, as embalagens avisam, em destaque, que determinados alimentos estão livres de gorduras trans. Contudo, em letras miúdas, com esforço e curiosidade, você verá que ainda contém gordura saturada – também maléfica – muito açúcar e todos os “antes” químicos (estabilizantes, aromatizantes, conservantes e afins) cujos efeitos no organismo são mascarados. Vide o benzoato de sódio nas bebidas diet, que já está proibido em alguns países.

Pois bem, ao utilizar como referência quem dita a moda do mundo, vemos nos Estados Unidos que dois em cada três adultos estão muito acima do peso. Por sua vez, uma em cada três crianças é obesa. Tudo isso com reflexo direto na qualidade de vida das pessoas e no sistema público de saúde. Essa parcela da população atingiu essa malograda condição em decorrência de um bem sucedido – e não bem intencionado – processo que nos convenceu que estávamos adquirindo valor, na forma de benefício e satisfação.

Ou seja, esse processo consiste em: produto sedutor + preço acessível + dependência = consumo de massa e benefício para organização.
E quanto ao benefício do público alvo? Mero detalhe!

Experimente alimentar-se de forma saudável e veja a diferença que isso terá no seu bolso. Como se não bastasse, quantas vezes você adquiriu um produto pela riqueza visual da embalagem, pelo envolvimento do anúncio e deparou-se com algo frustrante? Hum, aquele panetone…

Ah, e o iogurte funcional (também proibido de ser comercializado com essa denominação em alguns países) que não funciona, mas se você conseguir guardar as vinte embalagens tem a chance de ser ressarcido. Veja bem, se não deu certo é porque você não seguiu a orientação de adotar uma alimentação regrada – em letras moleculares e expostas no vídeo por meio segundo.

Tem ainda um achocolatado light que diz na embalagem: desde que consumido com leite desnatado. Sem esquecer que temos disponíveis o sabonete light e o papel higiênico com aroma de pêssego, Que entrega de valor! Que benefício fantástico!

Reitero, sou admirador do marketing, mas enquanto ele não tiver compromisso com a verdade e com sua finalidade de entrega de valor e benefício real, importante argumentar a divergência em prol da reflexão:

Qual o bem maior está em jogo? O lucro ou a vida? Esquecem que sem vida, não há lucro que perdure! O consumidor que antes direcionava seus gastos para determinados produtos, vê-se compelido a despender seus ganhos, agora, para preservar sua saúde. Fascinante!

Mas isso não é difícil de entender, pois a ética foi introduzida nos currículos acadêmicos nas escolas americanas somente nos anos 90. Daí que não surpreende tantos desvios de condutas e propósitos com os quais nos deparamos. Temos de amadurecer nesse sentido.

Depois ainda quebram a cabeça com a temática sobre os desafios de fidelizar clientes! Comecem pelo dever de casa, pelo básico, pelo essencial. A verdade é um remédio amargo, mas cura.

Já passou da hora de o marketing assumir sua responsabilidade social!

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