Embora 96% dos líderes brasileiros da indústria digam que a inovação é estratégica para suas companhias, apenas 31% deles faz investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento. E somente 29% deles acreditam que o grau de inovação no país é alto.
Esses são alguns dos dados presentes no estudo divulgado hoje pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), que mostra como anda a inovação no setor industrial brasileiro. A pesquisa, realizada entre abril e maio de 2019, ouviu 100 líderes (CEOs e vice-presidentes) – 60 deles eram líderes de pequenas e médias empresas industriais; os outros 40 comandam grandes empresas.
“O empresário reconhece a importância da inovação, que já foi incorporada à sua estratégia corporativa”, diz Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI. “Mas, para que ele consiga inovar com eficiência, é preciso haver uma convergência entre governo, academia e empresas. A universidade precisa formar pessoas que sejam capazes de levar a indústria para a era digital. E o governo precisa pensar em políticas de longo prazo para a indústria que envolvam financiamento para a inovação.”
A comparação entre os dados de 2015, quando a primeira pesquisa foi feita, e hoje, mostra que pouca coisa mudou. Se, em 2015, 3% dos executivos consideravam o nível de inovação alto, agora são 6%. Entre os que diziam que não era nem alto, nem baixo, o índice foi de 35%, em 2015, para 45%, em 2019.
Na visão de Gianna, houve melhorias, mas ainda falta muito para o país ser considerado de fato inovador. “Basta conferir os resultados do Global Innovation Index do ano passado. Embora o país tenha avançado cinco posições no ranking, ainda está em 64º lugar.” E, no quesito “eficiência em inovação”, o resultado é ainda pior: 85º lugar. “Isso significa que não conseguimos transformar inovação em produtos e processos. Esse resultado não é compatível com o que se espera da nona economia do mundo”, diz a diretora de Inovação da CNI.
Entre os fatores que dificultam a inovação no Brasil, os executivos citam o alto custo da inovação e a falta de financiamento (28%), a burocracia excessiva (27%), os níveis baixos de educação e qualificação de mão-de-obra (18%) e a falta de políticas de estímulo (17%).
“Nos países mais inovadores, o governo entende que inovação é uma estratégia de desenvolvimento para o país, e aumenta o investimento em P&D”, diz Gianna. “O Brasil está na contramão. Por aqui, ciência e tecnologia são vistos como gastos que precisam ser contingenciados. Não há um projeto de longo prazo para o país.”
Perguntados sobre a influência da inovação no faturamento, 44% dos executivos disseram que é acima de 20%. Apesar disso, só 31% das companhias entrevistadas investem mais de 5% do orçamento em pesquisa.
“O problema é maior entre as médias e pequenas empresas do setor industrial, que não têm recursos para inovar”, diz a diretora da CNI. “Em polos tecnológicos como Israel, por exemplo, o governo dá subvenção para empresas inovadoras. Isso não existe no Brasil.” Para melhorar o cenário para pequenas, médias e grandes, é preciso melhorar a educação, diminuir a burocracia e aumentar a segurança jurídica.”
Existe uma luz no fim do túnel. Para 31% dos CEOs e vice-presidentes, o grau de inovação da indústria será alto ou muito alto nos próximos cinco anos. “Eles acreditam que a inovação é o principal fator para driblar a crise, e vão se esforçar para isso”, diz Gianna.
Fonte: Época