Jovens de 18 a 24 anos, mais afetados pelo desemprego, veem alternativas no empreendedorismo
A inserção no mercado de trabalho, que já é uma etapa complicada da vida adulta, tornou-se ainda mais difícil com a pandemia da covid-19. Universitários que se formaram no final de 2019 e durante 2020 enfrentaram e ainda enfrentam os desafios de encontrar seu lugar no mercado profissional em meio ao isolamento social e à obrigatoriedade de home office para muitas empresas.
Um total de 23.910 mil pessoas resolveram criar seu espaço e estão ocupadas por conta própria, segundo dados da Pnad Contínua do terceiro trimestre de 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Amanda de Castro Rodrigues faz parte deste grupo. A advogada recém-formada, de 24 anos, que enviou mais de 30 currículos no ano de 2020, optou por criar um negócio nas redes sociais, enquanto espera a carreira no Direito ter sua vez.
“Comecei a procurar vagas no início da pandemia. Mandei um currículo em março e recebi a ligação para fazer a entrevista só em novembro de 2020. É um sentimento de frustração de não conseguir um emprego e aquele medo de não chegar aonde eu quero chegar”, diz.
Segundo a Pnad Contínua, a taxa de desocupação entre os jovens de 18 a 24 anos foi de 31,4% no terceiro trimestre de 2020 – mais do que o dobro da média de desempregados do País no mesmo período, que está em 14,6%.
Em busca de alternativas, a advogada, que continua a procura por vagas em escritórios de advocacia no Distrito Federal e segue o estudo para concursos públicos na área de defensoria, resolveu criar sua loja online de joias em prata. Com recursos que economizou no último estágio que fez enquanto ainda estava na faculdade, Amanda conseguiu uma nova fonte de renda.
“Empreendedorismo é uma saída para eu tentar resolver um problema de agora, é uma válvula de escape. Em 2021 vou continuar estudando para concurso e também enviando currículos, mas pretendo fazer um curso de ourives e, quem sabe, ampliar a minha lojinha”, diz a advogada, que abriu a loja online em janeiro deste ano.
O início do ano trouxe mudanças também para a vida profissional do engenheiro civil Alexandre Albuquerque, de 25 anos. O jovem, que concluiu sua graduação em 2020, foi aprovado para uma pós-graduação em Economia de Negócios, depois de pedir demissão de um emprego fixo no meio do ano passado.
Logística
Alexandre atuava na área de logística de uma multinacional, cargo que conseguiu devido ao estágio, e se demitiu por acreditar que não era o trabalho que queria para o futuro, buscando então oportunidades na área de gestão empresarial.
Para uma nova porta de entrada no mercado de trabalho, Alexandre quer continuar apostando em processos de treinamento em grandes empresas, que priorizam formação de jovens profissionais em gestão.
Desde 2019, ele participa de seleções para trainee. No primeiro ano, chegou à etapa final de três seleções: Honda, Johnson & Johnson e Pepsico, mas não conseguiu vaga. Em 2020, após se demitir do emprego, inscreveu-se em 7 processos e chegou à última fase da seleção da Mover, sem obter uma vaga. Agora, já se prepara para as inscrições de 2021 de empresas variadas.
Para orientar jovens que tentam seleções de trainee, a gerente de Atração de Talentos do Grupo Heineken, Luana Moraes, enfatiza que é importante o candidato ter conhecimento sobre a cultura organizacional e os valores da empresa, assim como a empresa também reforça essas informações em todos os momentos de interação do trainee.
“Assim os jovens podem se sentir parte da empresa, ainda que distante fisicamente de colegas e lideranças. Há ainda o alinhamento de objetivos, papéis e expectativas, agindo com total transparência e compromisso com o desenvolvimento de cada um”, destaca.
Pandemia
Desafiador. É a palavra que define o ano para Karoline Abreu, farmacêutica, de 24 anos, que conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada em fevereiro de 2020 e colou grau um mês depois.
“É uma outra fase da vida, você se vê em uma posição que nunca se viu antes. Agora, por conta da pandemia, foi ainda mais desafiador. Como profissional de saúde, fui recrutada para trabalhar na linha de frente e foi muito complicado”, diz.
A farmacêutica, que foi contratada para trabalhar em análises laboratoriais em um hospital particular em Brasília, afirma que o medo foi presente na sua primeira experiência profissional de trabalho fixo com carteira assinada. “Ficava apreensiva e ansiosa de saber como seria o futuro. Meu psicológico ficou muito afetado durante a pandemia”.
No entanto, o aprendizado foi intenso para a jovem. Em alguns momentos, a equipe de farmacêuticos precisou ser reduzida, pois profissionais se contaminaram com o coronavírus. “A carga de trabalho aumentou e precisei saber lidar com a pressão e com o trabalho em equipe, além de ajudar os outros colegas. Aprendi a ter mais tato, mais cuidado”.
Essas habilidades comportamentais, segundo a psicóloga e psicopedagoga Claldsnaldia Almeida, são potencializadas no mercado de trabalho e podem ser um diferencial para os recém-formados que buscam uma vaga.
Shurato Maciel, especialista em psicologia do trabalho, enfatiza que buscar se conhecer pode ter toda a diferença em processos seletivos. “Entender, saber identificar e analisar o que pode ser feito diante dos problemas. Autoconhecimento é a chave”, afirma Maciel.
Fonte: Terra