A agricultora e líder comunitária Maria Oenice Xavier, que vive há 30 anos na região rural de Paragominas (PA), tinha medo de abelhas. Isso até o início de fevereiro, quando ela e outras 19 produtoras de comunidades quilombolas do Pará aprenderam a produzir mel de abelhas sem ferrão, atividade também conhecida como meliponicultura.
A iniciativa, conduzida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), integra o plano de ação 2018-2030 da entidade e que tem como objetivo integrar a biodiversidade à produção agroalimentar promovendo medidas para a conservação de 90% das plantas silvestres e 75% dos cultivos que alimentam o mundo. A Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) e a Embrapa são parceiros do projeto realizado na comunidade de Alto Coraci, no coração da Amazônia.
A maioria das participantes, a exemplo de Maria Oenice, nunca havia trabalhado com os insetos polinizadores e tinha receio delas. “Ao longo do curso, no entanto, as agriculturas conheceram as espécies de abelhas nativas do Brasil e aprenderam que muitas delas são inofensivas e essenciais para a polinização”, conta Márcia Maués, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.
De acordo com a FAO, de um total de 600 espécies de abelhas sem ferrão conhecidas, o Brasil abriga mais de 250. Esses insetos, além de essenciais para a produção de alimentos em ecossistemas tropicais e subtropicais, representam uma alternativa de renda para comunidades rurais.
As abelhas sem ferrão adotam estratégias defensivas e não agressivas. Por isso, têm o manejo facilitado, promovendo tanto a produção sustentável de mel quanto a polinização de cultivos sem riscos para os agricultores.
“Elas podem ser criadas próximas às residências sem risco algum”, diz a pesquisadora da Embrapa. Durante o curso, que durou dois dias, as agricultoras receberam seis colônias de abelhas que foram instaladas no formato de uma mandala sob a copa de uma árvore no sítio de Maria Oenice. “Essas colônias são apenas o começo. Com o tempo as agricultoras poderão multiplicá-las, aumentando a produção de mel e fortalecendo a biodiversidade local”, destaca Márcia.
Maria Oenice revela que se apaixonou pelas abelhas. Agora divide os cuidados das colônias entre as amigas. Com outras atividades no sítio, como o plantio de frutíferas como banana, açaí e melancia, criação de galinhas e criação de peixes, a produtora já aposta numa produção melhor nas próximas safras. “Com mais polinização tenho certeza que minhas árvores vão produzir mais”, diz.
Além de fundamentais para muitos cultivos da região como açaí, melão, melancia e maracujá, as abelhas também podem oferecer uma fonte de renda extra com a produção de mel e própolis.
Fonte: Globo Rural.