O Ministério da Educação (MEC) informou, nesta sexta-feira (19), que vai encerrar o programa Idiomas sem Fronteiras (IsF), que permitiu a mais de 818 mil alunos e professores universitários aprender uma segunda língua. Segundo Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, secretário da Educação Superior do MEC, o projeto “não funcionou” e será substituído.
“O objetivo não pode ser pagar TOEFL [teste de proficiência em inglês] para as pessoas”, disse. Criado para ser um braço do Ciências sem Fronteiras (CsF), encerrado em 2014, o projeto se tornou nos últimos anos a principal ação do governo federal para promover a aproximação do ensino superior brasileiro ao de outros países.
Lima Júnior não explicou qual modelo vai ser adotado no lugar do IsF, apenas afirmou que sua ideia é promover a internacionalização a partir da vocação de cada instituição.
“Vamos descobrir a vocação que cada universidade tem e a partir daí como potencializar essas pesquisas. A Universidade Federal de Viçosa, por exemplo, se destaca na área de agronomia. Podemos fazer uma parceria entre ela e a Universidade de Iowa. Quando fizer a parceria, aí você vê se o idioma é um problema para a publicação ou pesquisa. Aí vai para o [curso de] Francês, Alemão, qualquer um que seja”.
Minutos antes de criticar o programa, Lima Júnior destacou exatamente que uma das principais dificuldades das universidades brasileiras é a internacionalização. “Existem poucos estrangeiros no nosso país e poucos brasileiros no exterior. As ações que foram feitas no passado, como o Ciências sem Fronteiras, não foram bem sucedidas porque focaram no CPF das pessoas. Nós queremos focar no CNPJ das instituições”, pontuou.
Como funcionava o Idiomas sem Fronteiras
Apesar de o secretário resumir o programa ao “pagamento de TOEFL”, o IsF foi desenvolvido com três linhas de atuação: aplicação de testes de proficiência, oferta de cursos de idiomas presenciais e a distância. Entre 2014 e 2018, 454,7 mil pessoas fizeram o TOEFL pelo IsF e 364,5 mil fizeram os cursos.
Atualmente o programa tem 5.950 alunos matriculados nos cursos e, no ano passado, o MEC comprou 43 mil testes TOEFL ao custo de R$ 4,5 milhões para aplicar em 2018 e 2019. Segundo a pasta, quem está em matriculado ou já inscrito para as provas não será afetado pela alteração.
O Idiomas sem Fronteiras foi criado em 2012, ainda com o nome Inglês sem Fronteiras, e tinha como objetivo desenvolver o idioma em graduandos candidatos ao Ciências sem Fronteiras, que com diversas críticas e avaliações negativas teve o último edital publicado em 2014. O IsF nasceu para corrigir uma das distorções que os especialistas apontavam no CsF, que era o de que muitos estudantes iam estudar em outro país para aprender a língua e não para desenvolver conhecimentos em sua área de estudo.
Com o fortalecimento do IsF, ao longo dos anos passaram a ser oferecidos cursos de alemão, espanhol, francês, italiano, japonês e português para estrangeiros.
Marcio de Castro Silva Filho, presidente do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop), o programa tem um papel importante para corrigir uma deficiência da educação básica brasileira. “Em geral, há baixa familiaridade dos estudantes brasileiros na graduação com uma segunda língua. É uma limitação do ensino médio brasileiro que acaba sendo transferida e vira um problema para as universidades”, diz.
Segundo Silva Filho, a falta de domínio, sobretudo do inglês, dificulta a internacionalização das universidades. Rankings internacionais de avaliação do ensino superior, como o Times Higher Education e o QS University Ranking, apontam que entre as principais dificuldades das instituições de ensino brasileiras para se destacar nas avaliações estão a baixa presença de professores e alunos estrangeiros, poucas parcerias com instituições de outros países, pouco impacto internacional das publicações científicas.
“Criar um ambiente acadêmico internacional é muito importante. Ele [secretário] critica o pagamento de exames de proficiência, mas eles são importantes para garantir a comunicação, que é fundamental para parcerias de pesquisa e ensino. Isso é incentivado no mundo todo, pós-graduação em Portugal ou na França exige hoje que se saiba inglês”, diz.
Para Silva Filho, a ideia apresentada pelo secretário – de só se preocupar com o aprendizado de uma segunda língua na hora da publicação do artigo científico ou da parceria – mostra “desconhecimento de como funciona o ambiente acadêmico”. “Para desenvolver parcerias, para fazer algo de impacto global, é preciso entender o que acontece e está sendo produzido em outros lugares do mundo. Sem uma segunda língua, o aluno não vai ser capaz disso. Se só usarmos o financiamento para traduzir artigos, nunca vamos crescer”.
* Com informações do Estadão Conteúdo
Fonte: Jovem Pan