Liberdade e felicidade são requisitos para desenvolver tecnologias na FPF-Tech, diz Luís Braga, Diretor Executivo

“Haverá um colapso nas áreas de TI e Inovação no pós-pandemia”. Esta é a manchete da semana nas mídias que trabalham com as últimas novidades no segmento editorial de tecnologias. O diretor-executivo da Fundação Paulo Feitoza, Luís Braga, reconhece que há uma escassez de profissionais nesta área, entretanto, de forma recorrente, há mais de 10 anos, o planejamento estratégico da instituição prioriza tecnologias
disruptivas como Internet das coisas, segurança cibernética, robótica, inteligência artificial entre outras. E assim se prepara para as surpresas permanentes da Quarta Revolução Industrial.

Nesta quarta-feira, ele abriu sua agenda para conversar com o portal BrasilAmazôniaAgora, no contexto da coluna Follow up. Confira.

Alfredo Lopes
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Follow Up- No início deste mês a FPF-Tech começou uma campanha para chamar os interessados em compor o time dos talentos da instituição. Como você descreve essa chamada em clima crescente de escassez de mão-de-obra no segmento de Tecnologia da Informação? Teremos escassez de talentos para atender às demandas do PIM – Polo Industrial de Manaus?
Luís Braga é Diretor Executivo da Fundação Paulo Feitoza – a FPF-Tech

Luís Braga – O processo de atração de talentos é uma iniciativa recorrente da FPF-Tech pois, para estar na vanguarda, o ponto chave sempre foi e, por nossa orientação e missão, serão as pessoas. O chamado atual que estamos divulgando é para postos específicos voltadas ao desenvolvimento de projetos de tecnologia e sempre foi um grande desafio encontrar profissionais que estejam disponíveis no mercado e com os conhecimentos necessários para ocupar esses postos. Então, não é algo fácil, temos que ser criativos nos processos seletivos para atrair a atenção dos profissionais com os perfis que buscamos e além disso, como empresa, precisamos estar prontos para trabalhar com hábitos e valores de uma geração que pensa de forma muito dinâmica e voltada para valores que o dinheiro não compra. Um dos critérios dessa convocação de desenvolvedores é a liberdade para trabalhar com o que realmente as deixa felizes, prover ambientes criativos, sejam virtuais ou presenciais, horários flexíveis e respeito às diferenças individuais. Isso faz toda a diferença.

Fup – E como as empresas participam neste movimento?

L.B. – Já estamos vivendo uma escassez de profissionais qualificados na área de desenvolvimento voltado à tecnologia, é preciso cada vez mais formar pessoas e essa responsabilidade não é mais apenas das universidades, pois estamos atrasados com isso, é hora das empresas privadas tomarem a frente e acelerar esse processo de formação, como? Criando programas de treinamentos em tecnologia abertos ao público, patrocinando cursos de média duração (6 meses) e longa duração (4 anos), abrindo espaço em suas dependências para ambientes de criação e treinamento, criando horários flexíveis que permitam aos colaboradores estudar. Por muito tempo nossas universidades se preocuparam em formar cientistas apenas, só que precisamos de excelentes técnicos também e essa conta foi negligenciada por muito tempo, agora estamos pagando. Henry Ford tem uma frase que fala: “pior do que treinar um funcionário e vê-lo sair, é não o treinar e vê-lo ficar”.

Fup – A inovação tecnológica, para quem apostou, chegou num movimento frenético no cotidiano do setor produtivo em suas diversas faces. Isso é o sintoma mais evidente da quarta revolução industrial? Como a FPF se preparou pra isso?
FPF Tech

L.B. – A transformação de tudo isso que está sendo chamado de indústria 4.0 realmente está acontecendo em um ritmo acelerado, contudo, no Brasil ainda temos um bom caminho a percorrer, e como é um assunto que envolve diversas áreas de conhecimento e tecnologias, o cenário não é simples e precisa de gente, pessoas qualificadas para fazer acontecer, e o ritmo de mudança foi acelerado em função da COVID-19. A partir da pandemia, as demandas pré-existentes se multiplicaram, precisamos acelerar os investimentos para colher os frutos dessa transformação antes que os outros o façam. Por isso, aqueles que não correrem em direção à transformação digital dificilmente sobrevirão às próximas décadas.

Para acompanhar o movimento da indústria 4.0, a FPF Tech vem-se preparando de forma estratégica e há muitos anos. Optamos por planejar para não sermos simplesmente carregados por essa febre de inovações e usos de tecnologia. Desde 2010, montamos nosso plano de preparação para a década em que estamos e, em nosso planejamento estratégico, tínhamos ações voltadas para sair e conhecer mundo a fora o que estava acontecendo nessa área. Passamos a participar de missões, eventos e feiras nacionais e internacionais, investimos em mestrados e doutorados para termos pessoas aptas a trabalhar e disseminar essas tecnologias, além de pesquisar e desenvolver projetos-pilotos integrando tecnologias as disruptivas da época, tais como: Internet das coisas, segurança cibernética, robótica, inteligência artificial entre outras.

Luís Braga, diretor-executivo da FPF-Tech, apresenta à comitiva de alunos dos EUA projetos de impacto social da Fundação.
Fup – Há oito anos, os alunos da EST – Escola Superior de Tecnologia da UEA – promoveram um movimento inédito na história do ensino no Amazonas: fizeram passeatas de protestos contra a falta de professores nas áreas de tecnologia na instituição. A inovação tecnológica chegou e só a academia não tinha visto?

L.B. – Tradicionalmente os movimentos estudantis têm o poder de influenciar e impulsionar mudanças na sociedade, e fatos assim são benéficos e tem importante valor na história. Quanto ao olhar da academia para a inovação tecnológica e o que estamos vivendo hoje, penso que a sociedade civil como um todo sua parcela débito de ações que poderiam ter sido feitas num formato diferente. Nosso modelo padrão de educação, até há bem poucos anos, era focado em formar apenas empregados. Não havia a perspectiva de formar bons empresários, bons empreendedores. E é difícil virar essa chave de uma hora pra outra. Entretanto, isso já está acontecendo, mesmo que de fora da rotina acadêmica para dentro do cotidiano das pessoas. Um exemplo emblemático está acontecendo graças a cientistas como o Prof. Edileno Moura da UFAM, ensinando como criar negócios a partir do que se aprende na graduação.

Hoje diria que a academia está ciente do que essas demandas, trazidas pela indústria 4.0, precisam em termos de tecnologia, até porque a grande maioria delas já era ensinada nas universidades há muito tempo como, por exemplo: Inteligência artificial, internet das coisas, aprendizagem de máquina, são disciplinas da maioria dos cursos de computação. O que não temos como cultura é expor esses jovens que estão estudando em ambientes reais para pensarem e desenvolverem soluções usando todo esse aprendizado que recebem na academia. Se conseguirmos fazer isso formaremos muitos alunos que, ao terminar a graduação, estarão prontos para preencher parte das vagas que hoje estão descobertas.

Fup – Você sabe que a UEA é toda financiada pela indústria, entretanto, muitas das demandas de inovação do Polo Industrial de Manaus são atendidas por instituições como a FPF-Tech. Como você enxerga um movimento de divulgação maior no âmbito da SEDUC e Conselho Estadual de Educação para convocar os jovens talentos do Ensino Fundamental e Médio para uma cultura da inovação e da comunicação?
Alfredo Lopes é filósofo, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazôniaAgora

L.B. – As universidades, em geral, têm que focar em formar profissionais com excelência e universalidade, e se dermos à universidade a missão de atender demandas de desenvolvimento de projetos para suprir todo o PIM estaríamos desvirtuando a finalidade de existir de uma universidade. Já a FPF-Tech e os institutos e fundações de tecnologia e inovação existem com a finalidade de desenvolver projeto e muitos focados em atender somente as demandas do PIM e esses institutos empregam muitas pessoas da região e, consequentemente, movimentam a economia local de outros setores como turismo e restaurantes.

Dito isto, reafirmo uma tese que sempre defendi: a única forma de fazer mudanças profundas em uma região, seja em um país ou uma vila, é através da educação. E quanto mais cedo as pessoas tiverem acesso à informação melhor serão os resultados. Eis porque chamar os jovens para terem contato com inovação e tecnologia é uma abordagem de grande valia e deve ser incentivada pelos órgãos competentes e pela iniciativa privada, com gestos simples como por exemplo receber uma turma de alunos de nível médio e seus professores para falar sobre profissões do futuro, mostrar o que uma indústria de fato precisa e por aí vai. Quanto mais cedo esse inter-relacionamento da academia com a indústria acontecer mais cedo os frutos virão.

Fup – A chegada do 5G vai agravar essa demanda por cérebros locais para acompanhar e adaptar a velocidade no movimento de transformação?

L.B. – A tecnologia 5G é mais um recurso que temos (teremos em breve) a nosso alcance para evoluir nessa transformação digital, então sim, precisamos de pessoas aptas a trabalhar com isso, pensar e implementar soluções e, novamente, temos poucas pessoas preparadas na região para atender às demandas atuais e vindouras.

Contudo, vejo nisso uma oportunidade imensa como profissional, pois posso começar hoje, agora, nesse instante a me qualificar para estar pronto em um futuro próximo, os profissionais que fizerem isto estarão à frente daqueles que esperam a coisa acontecer para serem empurrados pelas demandas. E por consequência colherão os melhores frutos.

Temos que estar sempre nos movendo e aprendendo coisas novas, pois trabalhar com tecnologia é isso, é maravilhoso, é empolgante, viciante e nunca mais deixaremos de ser alunos.

Fonte: Brasil Amazônia Agora

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