Especialistas explicam se de fato a inteligência artificial ameaça à mão de obra humana
Você já deve ter visto no cinema histórias de um mundo apocalíptico dominado por máquinas. De fato, a inteligência artificial (IA) é uma tecnologia que está cada vez mais presente no nosso dia a dia, mas pode ficar tranquilo, estamos longe da previsão dos filmes. O EM TEMPO conversou com especialistas para entender melhor o que afinal é a IA e como ela afetará o mercado de trabalho nos próximos anos.
“De uma forma simples, inteligência artificial é ensinar um computador a fazer as mesmas coisas que um humano pode fazer”, explica Aasim Khurshid, doutor em visão computacional do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia.
Mesmo que não tenha percebido, a inteligência artificial já está presente em muitas áreas do seu cotidiano. Uma das áreas da IA é a visão computacional, trata-se de uma habilidade que os sistemas têm de reconhecer e identificar pessoas e objetos, por exemplo.
Inteligência artificial afetará o mercado de trabalho. | Foto: Comunicação Sidia
Quando tiramos uma foto com amigos e um aplicativo é capaz de reconhecer quem são as pessoas nas fotos, isto é visão computacional, área da IA.
Assistentes virtuais também têm inteligência artificial. Quando você fala com um “chat box” de uma empresa, ou quando usa a Siri no iPhone, estas também são formas de atuação desta tecnologia.
Uma das grandes polêmicas que envolvem a IA é a questão da recomendação. Diversos usuários já se atentaram para o fato de que suas pesquisas têm atraído publicidade e conteúdos relacionados.
“Você pesquisa sobre algo e em seguida recebe diversas propagandas sobre aquilo. Com base em ciência de dados, estes sistemas fazem um mapeamento dos dados das pessoas para melhorar a experiência do usuário com os dispositivos”, explica Aasim.
Como você pode ver, o IA tem diversas aplicabilidades. Podemos citar também o reconhecimento de fala, a discriminação de e-mails por categoria e ainda a capacidade de reconhecer a melhor rota para o local selecionado no mapa.
Diferente da perspectiva catastrófica dos filmes, o especialista assegura, “máquinas são para ajudar a humanidade a melhorar o mundo e facilitar a vida do homem”. Para ele, não é preciso temer a inteligência artificial.
Um exemplo é a calculadora. Antes de sua criação, os processos numéricos eram manuais. “A calculadora na verdade ajudou a pessoa que contava a fazer seu trabalho de uma maneira mais fácil, foi o mesmo com computadores”, exemplifica.
O cientista de dados e Inteligência artificial, Diego Lins Freitas, da Fundação Paulo Feitoza (FPF-Tech) esclarece que esta tecnologia é mais focada em coisas repetitivas, que não exigem a criatividade humana. “Estamos longe dos conceitos de fantasias de filmes”, afirma.
É incontestável que algumas posições serão substituídas, mas toda força de trabalho pode ser realocada. “A inteligência artificial não brota de nada, existem profissionais que criam estes sistemas, as pessoas podem adquirir outras habilidades”, pondera o cientista.
Ele analisa que o mercado amazonense ainda é incipiente com relação a esta tecnologia. No Estado, a IA está mais concentrada nas indústrias, as empresas tradicionais se abrem aos poucos para esta possibilidade. “Aqui ainda estamos conhecendo, os empresários precisam buscar se arriscar mais e capacitar os profissionais”, aponta Diego.
Mercado de trabalho
Uma questão que realmente preocupa é o cenário do mercado de trabalho. Com a automação de algumas atividades, a mão de obra humana não será necessária para determinados tipos de funções.
“Com o tempo, as pessoas vão aprender trabalhos diferentes, a visão de trabalho vai mudar, mas o trabalho não vai diminuir”, afirma Aasim.
Vanessa Milon, gerente de Recursos Humanos (RH) do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INDT) e da Fundação Paulo Feitoza (FPF-TECH) explica que de fato vivenciamos uma mudança no mercado de trabalho que exige uma capacitação maior.
“O mercado vai exigir profissionais que tenham condições de trabalhar nessas áreas tecnológicas. Profissionais qualificados, mais valorizados no mercado. De fato, isso vai acontecer, mas existem outros efeitos”, pondera a gerente.
O principal efeito que esta mudança traz é o aumento dos salários. “Mão de obra qualificada é melhor remunerada”, afirma.
A análise da gerente é a seguinte: se tomarmos como base o atual salário de uma mão de obra tradicional, podemos concluir que com o poder de compra deste indivíduo, é possível gerar outros dois empregos, uma vez que esta pessoa não tem um poder aquisitivo tão alto.
Projetando um salário maior, uma família com melhor remuneração pode gerar uma média de cinco outros empregos, uma vez que sustenta um poder aquisitivo maior.
Ela toma como base os conceitos do livro “The New Geography of Jobs”, de Enrico Moretti. Nesta perspectiva, não podemos fugir dos impactos que a tecnologia causará no mercado de trabalho, no entanto, podemos nos capacitar, nos preparando para tal mudança.
“O que nós precisamos como profissionais e enquanto cidade é de pessoas qualificadas. Especialmente, na área de tecnologia”, complementa a gerente de RH. Vanessa é recrutadora e fala isso com base em sua vivência pessoal. “Eu tenho hoje vagas em aberto e não têm pessoas para ocupar estes cargos”, relata.
Para ela, habilidades que serão fundamentais no futuro são o inglês fluente e o entendimento, pelo menos básico, de programação. “Para os próximos 30 anos vamos precisar de muitas pessoas qualificadas”, reforça.
Inteligência artificial preocupa grandes empresas
A questão da inteligência artificial ainda é uma discussão em aberto, até mesmo para grandes empresas como Google e Microsoft. Pioneiras no desenvolvimento da IA, elas assumem que este setor precisa ter responsabilidade no desenvolvimento desta tecnologia. Um pequeno deslize pode trazer fortes consequências para a marca.
As empresas Alphabet, conglomerado do qual faz parte a Google e Microsoft falaram pela primeira sobre “fatores de risco” envolvendo a IA nos últimos “Forms 10-K”, relatório anual exigido pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, que fornece um resumo abrangente do desempenho financeiro de uma empresa.
No relatório divulgado em junho de 2018, a Microsoft afirma: “Algoritmos podem ser falhos. Os conjuntos de dados podem ser insuficientes ou conter informações tendenciosas. Práticas de dados inadequadas ou controversas da Microsoft ou de outras empresas podem prejudicar a aceitação de soluções de inteligência artificial. Essas deficiências podem minar as decisões, previsões ou análises que os aplicativos de IA produzem, sujeitando-nos a danos competitivos, responsabilidade legal e danos à marca ou à reputação. Alguns cenários de IA apresentam problemas éticos. Se habilitarmos ou oferecermos soluções de IA que são controversas devido ao seu impacto nos direitos humanos, privacidade, emprego ou outras questões sociais, poderemos causar danos à marca ou à reputação”.
A Alphabet, por sua vez, destacou: “Novos produtos e serviços, incluindo aqueles que incorporam ou utilizam inteligência artificial e aprendizado de máquina, podem criar ou destacar desafios econômicos, tecnológicos e legais, entre outros desafios que possam afetar negativamente nossas marcas e a demanda por nossos produtos e serviços — e afetar adversamente nossas receitas e resultados operacionais”.
A verdade é que não há como prever com exatidão os impactos da complexidade da IA no nosso cotidiano. A única certeza que existe é que estes são avanços que não podem ser contidos. De alguma, teremos que nos adaptar.
Fonte: Em Tempo