(Foto: Pixabay)

Entenda importância da educação sexual, esquecida por presidenciáveis

Chegado o dia das Eleições 2022, nenhum assunto assunto é tão urgente quanto os presidenciáveis e seus projetos para áreas importantes do desenvolvimento humano. É sabida, por exemplo, a importância de levar informação e conhecimento sobre educação sexual para proteger crianças e adolescentes de abusos e situações de violência.

Contudo, ao analisar os programas de governo dos três principais presidenciáveis — Bolsonaro, Lula e Ciro —, não há menção específica de projetos ou objetivos no que tange esse tema.

O psicólogo e terapeuta sexual André Almeida garante que, ainda que as pessoas ainda tenham muito tabu acerca do assunto por falta de conhecimento, a educação sexual de qualidade é primordial.

“Sexualidade é estrutural, não se trata apenas do comportamento sexual em si. Ela entra no vivenciar do ser humano nesse mundo, autoconhecimento sobre corpo, nomear sensações, colocar limites… Tudo isso é educação sexual. É muito importante, e deveria ser priorizado se a gente quer um desenvolvimento mais saudável das crianças”, explica.

Conhecimento é munição contra abusos

A sexualidade ainda é um tabu na sociedade, mesmo quando diz respeito a adultos. Logo, quando se trata de infância e adolescência, existe uma ideia distorcida que educação sexual é sinônimo de “ensinar a fazer sexo”, ou mesmo expor a criança a situações para as quais elas não estariam preparadas.

O especialista, porém, garante que a realidade está longe de ser essa e que, em vez de expor, levar o assunto da forma correta para essas crianças as mune de linguagem e percepção acerca do que pode ser um abuso sexual.

“Educação sexual dá ferramentas importantes para a criança entender principalmente sobre o próprio corpo, limites e sobre o que são comportamentos de abuso. Normalmente não é algo que vai doer, que vai machucar; o abusador trata como se fosse um carinho, uma brincadeira. Se ela não tiver uma boa educação sexual, só vai compreender muito mais pra frente que foi abusada”, afirma.

Sobre a crença de que o tema só deve ser tratado em casa, no momento em que os pais acharem melhor, o psicólogo alerta para o fato de que a maioria dos casos de abuso acontecem dentro de casa, vindo de alguém de confiança, como os pais e tios.

Um levantamento do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos aponta que, dos mais de 18 mil registros de abuso infantil em 2021, em mais de 8 mil a vítima e o agressor moravam na mesma casa. Dito isso, fica fácil compreender o quanto pode ser perigoso limitar que a fonte desse tipo de informação seja apenas a casa das crianças.

Como falar de sexualidade para uma criança?

Muito além de “falar de sexo”, educação sexual é algo sério e subjetivo, e a abordagem vai depender tanto da curiosidade quanto do nível de desenvolvimento. “Começa-se com o básico, como higiene; o que é cada coisa e como nomeá-las; quais regiões são adequadas ou não para um carinho; quem pode fazer a higienização ou não…”, lista.

Se feita de forma adequada, além de proteger a infância contra abusos, cria-se também jovens que, ao começarem a engatar comportamentos sexuais, lidam melhor com o próprio prazer e o prazer do outro, utilizam métodos contraceptivos mais eficazes e também têm maior compreensão e aceitação do próprio corpo, da própria orientação e assim por diante.

André explica como é feita a abordagem de sexualidade ao longo do desenvolvimento infanto-juvenil em cada uma das fases.

Confira:

1 a 4 anos: nessa idade, é importante que as crianças aprendam a nomear e identificar as partes do corpo, incluindo as genitais. Não há problema em usar apelidos como “piu piu” e “pepeca”, mas identificar pelos nomes “pênis” e “vagina” também é importante – principalmente para munir a criança na hora de comunicar qualquer desconforto, problemas de saúde, machucados e até abusos.

Pontue também a existência das diversas formas de expressão de gênero (exemplo: figuras masculinas com cabelo grande). Acostumar-se com diversidade ajuda na construção de uma autoimagem mais positiva, inclusive.

5 a 7 anos: além de continuar reforçando os pontos apontados anteriormente, nessa idade a criança pode mostrar interesse pela forma como nascem os bebês. Você pode falar sobre fecundação, crescimento no útero e nascimento, por meio da história da criança ou de forma lúdica. Além disso, explicar que existem diversas composições familiares diferentes pode ser uma boa maneira de ratificar a diversidade. Atente-se à curiosidade da criança, não precisa ir muito além do que é questionado.

Ensine a criança sobre privacidade, toques apropriados e inapropriados e consentimento (aprender a perguntar antes de tocar em alguém, além de sempre saber que devem pedir permissão quando forem tocar nela e esperar seu consentimento).

8 a 10 anos: reforçar os tópicos anteriores e explique sobre a existência das orientações sexuais e identidades de gênero. A exploração do próprio corpo é comum nesse período, então, trate com naturalidade, mas mostrando a importância de realizar determinadas ações (tocar nas genitálias, por exemplo) em privacidade.

Vivemos em uma era na qual o acesso a conteúdos eróticos é muito fácil. Ensine sobre o acesso seguro à internet e o que fazer caso seja exposto a algo que gere desconforto.

A puberdade é um assunto importante para se introduzir, pois ela está batendo à porta (muitas crianças entram nesse período por volta dos 10 anos). Introduza as mudanças no corpo (pelos, menarca, mamas, espinhas…) e a importância da higiene íntima.

11 a 13 anos: acolha e explique sobre as mudanças naturais do corpo. Explique sobre a menstruação, as emissões noturnas e outras mudanças que estão acontecendo. Aqui o conhecimento sobre navegação saudável pela internet também é imprescindível.

É importante saber dos riscos de acessar materiais adultos, bullying, compartilhamento de fotos e vídeos. Lembre-se de alimentar a curiosidade das crianças com informações corretas conforme as dúvidas forem surgindo.

Pré-adolescentes também precisam saber como as redes sociais afetam a autopercepção acerca dos corpos, além de treinar o senso crítico a respeito de como questões de sexualidade são representadas na mídia.

14 a 18 anos: segundo estudos, a média de idade de início das relações sexuais é de 15 anos. Por isso, quanto mais próximo dessa faixa etária, mais informações sobre infecções sexualmente transmissíveis, contracepção, sexo seguro e gravidez precisam ser introduzidas. É importante ressaltar que existem diferentes corpos e ficar atento às pressões estéticas.

Os adolescentes precisam saber sobre relações saudáveis e tóxicas, além de estarem munidos de habilidades de consentimento, negociação, frustração e término de relações. Conversas sobre álcool e drogas também fazem parte desse escopo.

*Com informações do site Metrópoles

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