Entenda as tecnologias que as vacinas Versamune e Butanvac usam para combater o coronavírus

As duas vacinas contra a Covid que estão sendo desenvolvidas no Brasil mostram a importância das parcerias internacionais para combater a pandemia.

O vírus não conhece fronteiras e a ciência também não. E é em parceria com instituições americanas que duas novas candidatas a vacinas já estão aguardando autorização da Anvisa para serem testadas e produzidas no Brasil.

“Fazer uma parceria internacional é um motivo de muito orgulho, que deve ser celebrado, deve ser comemorado, ainda mais se essa parceria internacional culmina em uma autonomia de produção para o país”, diz a presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak.

A vacina Versamune anunciada na sexta-feira (26) é fruto de um consórcio entre a USP de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com a empresa americana Farmacore. O governo federal investiu R$ 3,8 milhões para acelerar a pesquisa que vinha sendo feita há 4 anos para uma vacina contra tuberculose e que foi adaptada contra o coronavírus.

Em laboratório, os pesquisadores cultivam réplicas inofensivas da proteína “S” que o coronavírus usa para entrar nas células do corpo. Depois de extraída e purificada, a proteína é embalada em nanopartículas de um tipo especial de gordura capaz de ativar o nosso sistema imunológico. A combinação da proteína Spike com a nanopartícula se mostrou poderosa nos testes pré-clínicos.

Mesmo que a proteína falhe e o vírus se ligue a uma célula saudável, ele é combatido por células de defesa “T”, ativadas por essas partículas de gordura presentes na vacina.

Segundo o coordenador da pesquisa no Brasil, a tecnologia foi desenvolvida pelos americanos e adaptada pelos pesquisadores brasileiros. A remuneração dos parceiros virá se os estudos em voluntários brasileiros, previstos parar durar até agosto, der certo e a vacina for aprovada pelos órgãos reguladores.

“Enquanto a gente está fazendo ensaios clínicos de fase 1, 2 e 3, a gente já está procurando uma empresa nacional, já estamos procurando, tem várias interessadas, e começar a desenvolver essa tecnologia e produção já em grande escala”, explica o pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) Célio Lopes da Silva.

A outra vacina anunciada na sexta, a Butanvac, usa uma tecnologia também avançada, mas diferente. Os pesquisadores usam um vírus chamado Newcastle que infecta aves, mas não provoca doença em seres humanos. Esse vírus é modificado geneticamente para produzir a proteína “S”, a chave da invasão nas células do corpo.

Ovos são usados como local de reprodução desses vírus que depois de retirados são purificados e inativados quimicamente gerando a matéria-prima da vacina. Ao ser injetada, a Butanvac engana o organismo que pensa estar sendo atacado por um vírus de verdade e produz anticorpos que vão agir se o coronavírus atacar.

A Butanvac foi divulgada como vacina 100% nacional em uma cerimônia na manhã de sexta no Instituto Butantan. No fim da tarde, um pesquisador do hospital Monte Sinai, de Nova York, revelou ao jornal Folha de S.Paulo que a tecnologia havia sido desenvolvida lá. O Instituto Monte Sinai, de Nova York, informou que desenvolveu a técnica do vírus da doença de Newcastle e cedeu o vírus modificado para o Butantan, sem pagamento de royalties.

Neste sábado (27), Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, confirmou essas informações. Disse que Vietnã e Tailândia também fazem parte do consórcio que vai usar o vírus Newcastle. “Ele foi disponibilizado sem custo para esse consórcio, mas com um compromisso. O compromisso é de produzir vacinas para os países pobres e de renda baixa”, disse.

Dimas Covas disse que a partir do vírus modificado, todo o processo passa a ser o mesmo que o Butantan já usa para a vacina da gripe. Junto com o pedido de testes em voluntários brasileiros, o Butantan já enviou para a Anvisa os resultados dos testes em animais feitos também fora do Brasil.

“O Butantan desenvolveu a formulação vacinal e mandou para realizar estudos pré-clínicos na Índia. Da nossa vacina especificamente, os estudos foram realizados na Índia e são esses dados que vão subsidiar todo o desenvolvimento subsequente dos estudos clínicos. E, a partir de maio, poderemos produzir já inicialmente 40 milhões de doses dessa vacina, já com os dados do estudo clínico que deve começar brevemente, assim que a Anvisa autorizar”, disse Dimas Covas.

Fonte: G1

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