É preciso ter planejamento, visão, encontrar oportunidades, exercer uma gestão eficiente, se movimentar no mercado, assumir riscos e, principalmente, ter flexibilidade para executar as mudanças necessárias
Para te ajudar nesta missão, conversamos com Ana Pires, a doutora em gestão de inovação e coordenadora do Teletanque, e com Eduardo Lobo, especialista em administração de empresas e CEO da QRPOINT, sobre os principais desafios e habilidades deste ecossistema.
As startups são fruto de uma inspiração para solucionar um problema real da sociedade. Mas, para tomar forma e se desenvolver, somente contar com uma ideia inovadora não basta. É preciso ter planejamento, visão, encontrar oportunidades, exercer uma gestão eficiente, se movimentar no mercado, assumir riscos e, principalmente, ter flexibilidade para executar as mudanças necessárias.
Tenha atenção ao processo
Não adianta levar para o mercado um produto ou serviço só porque você acha ele excepcional. Pensando nisso, nada melhor do que conhecer exemplos práticos de empreendedores que vivenciaram e vivenciam diariamente todo os processos citados anteriormente.
Eduardo Lobo conseguiu transformar sua vivência na área de recursos humanos e a vontade de desburocratizar os processos no QRPOINT. A empresa oferece para o mercado um aplicativo de registro de ponto através do smartphone.
“O QRPOINT cuida de todo processo de controle e gestão da jornada de trabalho das empresas. Ele permite que registro de ponto, hora extra, falta, escala de folgas, entre outras atividades de RH sejam feitos de forma mais simples e digitalizada. Com isso, o RH passa a ter mais tempo para se dedicar as pessoas”, detalhou Eduardo.
A ideia da startup surgiu em 2015. No ano seguinte, Eduardo e os sócios lançaram o protótipo no mercado para testes de validação e em 2017 iniciou de fato as atividades. É importante pontuar que a startup desde o início contou com uma pluralidade de conhecimentos e habilidades, com profissionais de negócios, marketing, tecnologia e atendimento ao cliente.
Eles participaram do programa de aceleração Acelere[se] e já ganharam prêmios importantes – o Desafio Like a Boss do Sebrae, em 2017; o troféu startup do ano pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação Regional Bahia (ASSESPRO-BA), em 2018; e o prêmio de startup revelação na Campus Party 2019.
Ana Pires e a história da Teletanque são a prova viva de que a união e a troca de experiência de diferentes profissionais pode transformar um segmento do mercado. Ela é CEO e Co-fundadora do estúdio de inovação Clara Ideia, que é uma espécie de “mãe” da Teletanque. A startup oferece um sistema inteligente de monitoramento e gestão para piscicultura .
“O Teletanque surgiu em um jogo de inovação para identificar oportunidades na área do agronegócio, que contou com a participação de profissionais de diversas áreas. Nessa oficina surgiu a ideia de levarmos tecnologia de ponta para o segmento da piscicultura, voltado, principalmente, para as pequenas e médias fazendas que ainda atuam muito voltadas no sistema multitradicional, baseado na experiência”, relatou.
Em 2018, a equipe formatou o projeto e submeteu a um edital da a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industria (ABDI), que foi o primeiro “start” de validação da ideia.
Em 2019, submeteram o projeto ao programa de aceleração Conecta Startup Brasil e foram contemplados. Eles passaram por um processo de um ano em desenvolvimento e receberam 100 mil reais de investimento, recurso que foi usado para desenvolver a tecnologia. Um software que permite o monitoramento remoto da qualidade da água os tanques de pisicultura.
“Reunimos uma equipe muito qualificada que se apaixonou pela ideia, pelo propósito, e fizemos uma parceria com uma cooperativa de piscicultores da Chapada Diamantina. O que nos permitiu desenvolver o produto incorporando os desafios reais do usuário”, acrescentou Ana, sobre o início da startup.
A empresa entrou no mercado no início deste ano e já atraiu a atenção de pessoas de várias cidades do Brasil. Além da tecnologia por assinatura, a Teletanque promove webinar mensais gratuitos com a presença de especialistas em piscicultura.
Para não ter erros na criação startup
- Identifique um problema relevante com o qual você tenha familiaridade/interesse;
- Munido de conhecimento sobre o problema desenvolva a ideia, de preferência contando com a participação de profissionais de diferentes áreas (sendo pelo menos um obrigatoriamente de tecnologia);
- Formate seu projeto e o inscreva em editais de aceleração e incubação para validá-la com profissionais de inovação mais experientes. Ou seja, saber se ele realmente vai trazer um solução que será interessante para o mercado que você escolheu. Os programas de aceleração podem até mesmo ajudar a startup a garantir capital;
- Busque o auxílio de um advogado e/ou de um contador para organizar toda a documentação da empresa;
- Tenha uma boa gestão de recursos, seja de capital que veio de programas ou dos próprios sócios. É importante conseguir fazer sempre mais com menos;
- Desenvolva seu produto junto com um potencial cliente, para aumentar as chances da startup realmente entregar para o mercado algo alinhado a necessidade dos usuários;
- Tenha bem claro quais são os objetivos e resultados esperados da sua empresa;
- Celebre parcerias para desenvolver e/ou expandir o seu negócio no mercado;
- Esteja em contato com outros empreendedores e marque presença em eventos do ecossistema;
- Acompanhe de perto o funcionamento do seu negócio e faça mudanças nos processos sempre que negócio, para torná-los mais eficientes;
- Cultive seus clientes, faça eles serem atraídos pelo propósito e os valorize quando trouxerem novos clientes (através de bonificações);
- Esteja disposto a aprender todos os dias um pouco mais sobre o ecossistema de startups e sobre a área em que seu negócio atua.
Saiba o que vai enfrentar pela frente ao abrir uma startup
- Exigências formais. “Pela minha experiência, observo que existe um excesso de burocracias na abertura de empresas. Muitas taxas e pagamentos”, sinalizou Ana.
- Dificuldade de encontrar mão de obra técnica, especialmente da área de tecnologia. “Em Salvador, temos poucos cursos de alto nível nas áreas de tecnologia, com isso faltam profissionais bem formados em áreas como ciência de dados, desenvolvimento de software e engenharia de dados. Com isso, se torna muito caro contratar um bom profissional de tecnologia”, pontuou Eduardo.
- Atenção a sua equipe. “O time precisa ter pessoas que se complementam em habilidades, porque se todo mundo ‘falar a mesma língua’ as chances de sucesso são menores”, orientou Ana.
- Superação das barreiras do tradicional. “As pessoas estão acostumadas em realizar as atividades de uma determinada forma, normalmente com pouco ou nenhuma tecnologia. E você precisa mostrar para eles que investir em uma nova maneira pode ser melhor para os resultados”, afirmou o CEO do QRPOINT.
- O negócio sempre vai precisar ser monitorado e melhorado. “A metodologia de gestão PDCA (Planejar, Executar, Controlar e Melhorar) deve fazer parte da rotina da sua empresa. Tem muitas ferramentas de gestão gratuitas na internet, que ajudam a monitorar o negócio”, aconselhou a CEO da Clara Ideia.
- Não tem como saber tudo. “Empreender, principalmente com inovação, significa estar sempre aprendendo. Ter a mente aberta para ouvir opiniões e buscar aprimorar e aumentar sempre seus conhecimentos vai ser crucial”, alertou Eduardo.
Fonte: iBahia