Educação financeira: controle impulsos e envolva a família para fugir das dívidas

Contas de 66,5% dos brasileiros estão no vermelho, aponta a CNC. Entre os vilões estão cartão de crédito e cheque especial

Cartão de crédito, cheque especial, prestação do carro e da casa, boletos que não acabam mais. O número de famílias endividades em janeiro deste ano aumentou expressivamente, segundo pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Mas há solução para migrar do vermelho para o azul. As principais estratégias, segundo especialistas, são envolver a família nas finanças e controlar a impulsividade em gastar.

De acordo com o levantamento, divulgado nesta semana, 66,5% de brasileiros estavam atolados de contas para pagar, alta de 0,2% em relação a dezembro de 2020 e de 1,2% na comparação com janeiro do ano passado.

De acordo com o especialista em finanças, Reinaldo Domingos, educação financeira é essencial para controlar as contas. “Os hábitos construídos desde a infância são mais voltados ao consumo do que à poupança. Com uma maior facilidade em se obter créditos, as pessoas aumentaram seu poder de compra. E como o crédito pressupõe uma prestação, para lidar com isso é necessário ter uma educação financeira”, explica.

Segundo Domingos, é preciso reafirmar conceitos básicos no orçamento de não gastar mais do que se ganha e planejar bem na hora de financiar dívidas. “Obter um crédito para sanar uma dívida já existente não é uma solução, se não existir um domínio sobre o que se ganha e o que se gasta sempre. Quando se trata de educação financeira, é necessário buscar resolver a causa do problema, e não o seu efeito.”

E envolver a família é fundamental, uma vez que grande parte dos gastos provém do dia a dia do lar. “Organizar-se para evitar desperdicios e resgatar a rotina da responsabilidade financeira é essencial. É preciso mostrar que caminhar na contramão ao endividamento pode fazer com que todos possam usufruir dos ganhos, com sustentabilidade.”

Informais

Para quem não tem uma renda fixa, como os informais, a estratégia é destinar os recursos que entram para para antecipar parcelas.

“Caso a pessoa não receba da mesma forma nos próximos meses, pelo menos ela já tem as próximas prestações pagas”, afirma Ana Carrera, gerente de desenvolvimento de negócios da Sicredi Vale do Piqui.

Carlos Barros, da consultoria financeira Jeitto, enfatiza que nas situações de informalidade,  a organização e o planejamento são ainda mais importantes. Vale tanto sobre organização quanto sobre escolher bem os serviços financeiros que vai usar: entender melhor as taxas, o valor final, parcelamento, juros…”, explica. “E encontrar opções que estejam conectadas e respeitem a sua realidade financeira.”

Veja 7 passos preparados pelo educador financeiro Reinaldo Domingos para sair das dívidas definitivamente:

1- Colocar na ponta do lápis todas as dívidas que possuir, separando as que correspondem a serviços e produtos de necessidade básica, que não podem ser cortados (como água, energia elétrica, gás e aluguel) e as que sofrem juros mais altos (como cartão de crédito e cheque especial), considerando essas como prioridade para pagamento. Antes de sair se enrolando para pagar, faça um diagnóstico financeiro, para saber como pode diminuir as despesas mensais, fazendo sobrar dinheiro para pagar as dívidas em atraso.

2- Anote durante 30 dias todos os gastos que tiver, separando por tipo de despesa. Isso inclui gastos “pequenos”, que podem até ser considerado menos importantes, como gorjetas e guloseimas, pois no final do período será possível compreender de que forma, efetivamente, seu dinheiro está sendo gasto. Reflita sobre os hábitos e comportamentos que o levaram a chegar nessa situação, assim saberá o que deve mudar e quais gastos irá reduzir ou eliminar.

3- Tenha em mente que só se deve negociar uma dívida quando se tem condições de fazer isso, ou seja, após se planejar, pois um passo precipitado pode até piorar a situação. Portanto, só se deve procurar um credor, quando já souber quanto terá disponível mensalmente para pagar e, então, poder negociar.

4- Trocar uma dívida pela outra nem sempre é a melhor alternativa. É claro que o crédito consignado, por exemplo, oferece juros baixos em comparação ao cartão de crédito, cheque especial e financiamentos, já que o pagamento é retido diretamente do salário. Justamente por isso é preciso cautela, já que para quem já está com dificuldade em administrar as finanças, ter sua renda habitual reduzida pode desencadear novos endividamentos e problemas ainda maiores, virando uma bola de neve.

5- Para não agravar a situação, antes de realizar qualquer compra, se faça algumas perguntas como “Eu realmente preciso desse produto?”, “O que ele vai trazer de benefício para a minha vida?”, “Estou comprando por necessidade real ou movido por outro sentimento, como carência, baixa autoestima ou influência de terceiros?”. Ao fazer isso, terá uma grande surpresa sobre a quantidade de coisas adquirida apenas por impulsividade.

6- Em momentos de crise financeira, que são passageiros, é importante resgatar sonhos, objetivos que realmente importam e que farão a pessoa ter ainda mais motivos para “dar a volta por cima”. É preciso relacionar no mínimo três sonhos: um de curto prazo (a ser realizado em até um ano), um de médio prazo (entre um a dez anos) e outro de longo prazo (acima de dez anos), sendo que um deles deve ser o de sair das dívidas.

7- Com os números do diagnóstico financeiro em mãos, é possível conhecer a sua força de poupança após os cortes para realizar o sonho de sair das dívidas sem que tenha que fazer outra dívida. Mês após mês, é preciso aplicar esse dinheiro em um investimento que seja coerente ao tipo de objetivo (prazo) e ao perfil do investidor. Caso tenha dificuldade para investir, é válido consultar um especialista.

Foto: Freepik

Fonte: R7

Compartilhar

Últimas Notícias