Dia da Amazônia: a tecnologia pode ajudar a salvar o bioma?

Neste domingo, 5 de setembro, é lembrado no Brasil o Dia da Amazônia. O bioma, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), tem mais 5 milhões de km² (área brasileira), 4,9 milhões de km² de bacia e abriga 50% da biodiversidade mundial.

A Amazônia também conta com uma variedade de até 300 espécies de árvores, 3 mil espécies de peixes e 17 milhões de pessoas vivendo na região. Os números superlativos transformam o bioma em um dos locais mais ricos e biodiversos do planeta, sendo admirado e conhecido em todas as regiões do mundo, já que ele ainda ocupa os territórios de outros cinco países: Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia e Peru.

Para proteger e conservar este patrimônio vivo da humanidade, a tecnologia acaba surgindo como uma aliada. Entre essas iniciativas está a PrevisIA, uma ferramenta de Inteligência Artificial que antecipa informações de regiões com maior risco de desmatamento e incêndios na Amazônia.

Microsoft

Lançada em conjunto pela Microsoft, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Fundo Vale, a PrevisIA é aberta ao público e analisa dados como topografia, cobertura do solo e estradas legais e ilegais para “identificar possíveis tendências de mudanças no uso do solo”. As informações podem ser repassadas para órgãos públicos para que eles atuem em ações preventivas.

A plataforma utiliza computação na nuvem do Microsoft Azure e algoritmos de IA desenvolvidos pelo Imazon para detectar estradas em imagens de satélites, e identificar os diferentes tipos de territórios ameaçados no bioma, incluindo Terras Indígenas e Unidades de Conservação.

“O grande avanço deste projeto foi democratizar o acesso a recursos avançados de Tecnologia da Informação para facilitar o engajamento de diversos usuários na prevenção e controle do desmatamento da Amazônia”, disse Carlos Souza Jr, pesquisador associado do Imazon, em agosto deste ano, no lançamento oficial da tecnologia.

Microsoft

“O sistema tem potencial de ser usado também para avaliar áreas de restauração florestal e vulnerabilidade ao fogo, ajudando a produzir dados mais concretos para arranjos de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) que poderão ser adotados pela Vale em mercados de créditos de carbono”, explicou Patrícia Daros, a diretora de Operações do Fundo Vale.

Projeto 100% nacional

Um projeto importante que surgiu para proteger o bioma amazônico foi o Amazônia 1. Ele é o 1° satélite 100% desenvolvido e operado pelo Brasil e foi lançado na órbita terrestre em 28 de fevereiro deste ano.

O projeto foi tocado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e desde 25 de junho está na fase operacional, com as imagens capturadas por ele sendo utilizadas para o monitoramento da Amazônia (PAMZ+). O TecMundo conversou com Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e demais biomas, sobre a utilização e importância da ferramenta.

Almeida argumentou que as chamadas imagens WFI (Câmera Imageadora de Campo Largo) produzidas pelo satélite, para analisar diariamente o desmatamento e degradação florestal, foram incorporadas ao Sistema Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), que faz um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia.

SatéliteFase de preparação da Qualificação Estrutural do Amazônia 1

“O Amazonia 1 é um satélite de órbita Sol síncrona (polar) que irá gerar imagens do planeta a cada cinco dias. Para isso, possui um imageador óptico de visada larga (câmera com 3 bandas de frequências no espectro visível (VIS), – e uma banda próxima do infravermelho – (Near Infrared ou NIR) capaz de observar uma faixa de aproximadamente 850 km com 60 metros de resolução. Sua órbita foi projetada para proporcionar uma alta taxa de revisita (cinco dias), tendo, com isso, capacidade de disponibilizar uma significativa quantidade de dados de um mesmo ponto do planeta”, explicou o profissional.

Ele acrescentou que as características do satélite fazem com que ele seja imprescindível para analisar alertas de desmatamento. A recepção dos dados do Amazônia 1 é realizada por uma estação localizada em Cuiabá (Mato Grosso) e processada pelo Laboratório de Geração de Imagens em Cachoeira Paulista (São Paulo).

Importância do projeto

O coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia explica que o satélite 100% brasileiro é um dos três usados no DETER. Junto dele, estão o CBERS-04 e CBERS-04A. “Os três têm igual importância. O uso conjunto dos três satélites permite uma revisita de um ou no máximo dois dias para qualquer ponto do Brasil, isoladamente cada satélite tem revisita de cinco dias”.

Almeida complementa que a equipe do Programa Amazônia é composta por servidores do Inpe. Alguns servidores são dedicados exclusivamente ao PAMZ+, e outros têm dedicação parcial. Além disso, o trabalho essencial de monitoramento do bioma é feito por bolsistas de desenvolvimento tecnológico, totalizando cerca de 40 pessoas.

SatéliteAs imagens do Amazônia podem, inclusive, ser consultadas pela internet

Há motivos para se comemorar?

Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF Brasil, uma entidade não governamental que defende a conservação da natureza, diz que as inovações tecnológicas são superimportantes e aliadas no combate contra as ações criminosas e desmatamento na Amazônia. Ela explica que a agilidade na identificação das áreas de desmatamento e queimadas é essencial para tornar as ações mais precisas.

Apesar disso, ela faz questão de ressaltar que as ferramentas não são o suficiente, já que elas dependem de operação humana. A ambientalista diz, ainda, que a Amazônia tem sofrido discursos e movimentos que “estimulam sua destruição”.

“O principal problema enfrentado pela Amazônia é o aumento de pressões que têm resultado diretamente em desmatamento. Também tem ocorrido degradação, fragmentação de áreas e queimadas, que vão aos poucos gerando uma perda de valor de biodiversidade e na capacidade da floresta de se biorregular”.

Amazônia

Napolitano lembra que o bioma tem sofrido também com questões de garimpo ilegal, que no acumulado geram aos brasileiros dificuldades como o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, secas, enchentes, alterações do ciclo de chuvas, perda da biodiversidade e piora da saúde (já que a fumaça gerada pelas queimadas aumenta as chances de doenças respiratórias).

Ações urgentes

A representante do WWF Brasil também defende que o governo federal não tem feito o suficiente para proteger o bioma, e que através de ações como a redução de fiscalizações e autuações em atividades ilegais tem estimulado conflitos sociais, grilagem e especulação de terra, além das queimadas e desmatamento.

“A pandemia de covid-19, que teve um impacto no trabalho de conservação porque as pessoas não podiam ir a campo, acabou se somando a um cenário de maior permissividade a ações legais (do governo)”, diz.

Ela alerta que as ações para proteger o bioma são urgentes, já que as análises realizadas pelo próprio Inpe apontam para um cenário crítico. A Amazônia teve, em junho deste ano, o maior número de focos de queimadas dos últimos 14 anos para o mês, por exemplo. De acordo com o Inpe, foram registrados 2.308 focos de calor no período, o que indicou um aumento de 98% na comparação com maio de 2021.

Amazônia

“Além de mais financiamento para prevenção e combate a ilegalidades, é essencial garantir o cumprimento das autuações para que as infrações e multas sejam de fato pagas. Além disso, precisamos de maior comprometimento setorial, melhores mecanismos de rastreabilidade que garantam que as empresas que estão comprando ou produzindo produtos da Amazônia não estejam ligados ao desmatamento”, afirma Napolitano.

Por último, a ambientalista lembra que é muito importante que haja um pacto setorial com empresas, ONGs e que envolva governos municipais, estaduais e federal para garantir a conservação do bioma amazônico.

A resposta governamental

TecMundo entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para abordar sobre os problemas da Amazônia levantados pelo WWF Brasil e para saber sobre os investimentos em tecnologia para monitorar o bioma. Até o fechamento da matéria, porém, a pasta não retornou os contatos.

Imagem em Destaque: Tatsiana Hendzel/Shutterstock
Fonte: Tecmundo

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