Uma mulher faz compras em um supermercado de São Paulo 11/01/2017 REUTERS/Paulo Whitaker

Com a pandemia, Hirota levará supermercados para dentro de condomínios

Em tempos de pandemia, a casa ganhou outras funcionalidades. Virou escritório, academia, cinema, por exemplo. A transformação foi rápida para que todos, mesmo confinados, pudessem manter a vida dentro de uma certa normalidade. Agora a casa pode ser também a própria loja física do supermercado.

Mulher faz compras no supermercado

Uma mulher faz compras em um supermercado de São Paulo (11.jan.2017). Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Em meados do mês, a rede de supermercados Hirota inaugura duas lojas em áreas comuns de dois condomínios residenciais em São Paulo. Totalmente automatizada e sem a presença de gente, a loja vai funcionar dentro de um contêiner adaptado, inclusive com uma parte refrigerada e vitrine. A intenção é fazer dessa pequena loja uma espécie de despensa, o lugar da casa onde os antigos guardavam os mantimentos.

“Com a pandemia, percebemos que muitos não queriam ir ao supermercado, principalmente os idosos, que começaram a pedir as compras por WhatsApp. Daí, surgiu a ideia de montarmos pequenas lojas dentro de condomínios”, diz o diretor da rede, Hélio Freddi.

Batizado de Hirota Express em Casa, o modelo de loja terá dois tamanhos: 15 e 30 metros quadrados. Em média, serão oferecidos 500 itens, entre alimentos, bebidas, artigos de higiene e limpeza, frutas, verdura, legumes e itens refrigerados, como carnes e pratos prontos.

Por meio de um aplicativo, o cliente cadastra a biometria ou QRCode. Essas serão as chaves para abrir a porta da loja. Dentro escolhe os produtos e paga no cartão, após passar as compras pelo self check-out. Todo o ambiente é filmado. “Não há contato humano”, diz Freddi. Duas vezes na semana, o funcionário repõe itens e limpa a loja.

Eduardo Terra, presidente do Sociedade Brasileira de Varejo, diz que o modelo de negócio é inovador. “A pandemia criou uma jornada de consumo diferente: ao invés de as pessoas irem à loja a loja vai até elas.” Isso funcionou inicialmente com a aceleração do e-commerce e da venda por meio de aplicativos de entrega. Agora a loja dentro de condomínios faz todo sentido, argumenta. “Aquela jornada do consumidor saindo de casa, pegando elevador e ônibus, virou a vilã da contaminação no momento.”

O projeto só é viável, segundo Terra, por causa da tecnologia, que eliminou o maior custo: o gasto com a mão de obra. O desafio é acertar no mix de produtos e no preço, alerta.

“Há três supermercados de rede na vizinhança e essa loja não pode ter preços muito altos”, diz Roberto Aielo Strovieri, síndico de um dos condomínios.

Com três torres, o condomínio de classe média que fica no Tatuapé tem 350 apartamentos e mil moradores, dos quais 30% são idosos. Pelo contrato, o supermercado vai pagar ao condomínio 2% da venda mensal da loja, estimada em R$ 50 mil. O síndico diz que a receita extra vai ajudar nas despesas.

A loja ficará num “espaço morto” entre as três torres e dentro de um contêiner adaptado. A ideia de usar um contêiner nasceu porque os condomínios não querem um projeto de alvenaria que interfira no layout. Outra razão é o custo baixo: cada contêiner sai por R$ 140 mil.

A expectativa até o final deste ano é ter 20 lojas nesse formato com investimento total de R$ 2,8 milhões. A meta da companhia é chegar a 100 lojas até o final de 2021. “O modelo só funciona se tivermos uma grande rede montada”, diz Freddi. Ele conta que tem 40 lojas apalavradas com uma grande administradora de condomínios de São Paulo.

Com vendas de R$ 500 milhões previstas para 2020, o Hirota viu a receita saltar com a pandemia. Até fevereiro, o comércio online respondia por 0,6%. Hoje está em 8%. Nas lojas físicas de supermercados, a venda avançou 18%. Mas nas lojas Express, voltadas para o público de escritórios, despencou. A rede tem 38 lojas: 16 supermercados e 22 lojas Express.

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