O Brasil atingiu um novo recorde de veículos blindados. Em 2023, foram 29.296 automóveis, um aumento de 13% em relação ao ano anterior, quando 25.916 veículos foram blindados. Os dados são da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). Este é o maior número de blindagens registradas desde 1995, ano em que a Abrablin começou a compartilhar esses dados. Hoje, estima-se que a frota de veículos blindados no Brasil seja de quase 340 mil carros.
No Pará, lojistas do segmento afirmam que o mercado está em ascensão. Danilo Renê, proprietário de uma das empresas que fornece este tipo de serviço em Belém, diz ser testemunha do crescimento. Ele atua no mercado paraense há oito anos. “A cada ano que passa, há um aumento na demanda por blindagem no Pará. Atualmente, a nossa média de blindagem no estado é de 7 a 9 carros por mês”, diz Renê. A loja em Belém é uma filial, que tem matriz em São Paulo.
Segundo o lojista, de cada cinco veículos “de luxo” nas ruas da capital, pelo menos um é blindado. Danilo avalia que o aumento da procura pelo serviço está atrelado ao aumento da sensação de insegurança da população. “Infelizmente, a insegurança se tornou uma realidade cotidiana, até mesmo indo buscar seus filhos na escola, pois sair com os vidros abertos pode expor a riscos de abordagens criminosas”, pontua.
O lojista observa ainda que o crescimento está para além da capital. “Antigamente, há seis ou sete anos, a maior demanda era apenas na capital, mas hoje se estende para o interior, incluindo Parauapebas, Castanhal, Paragominas e Marabá. O que podemos concluir é que a criminalidade e a insegurança também chegaram ao interior”, diz, acrescentando que está investindo em sua estrutura para poder atender os veículos de várias regiões do Pará.
Ana Giselle Braz, diretora executiva de outra loja especializada em Belém, estima uma média de cerca de 50 carros blindados por mês. No entanto, ela pondera que, devido à falta de blindadoras na região, a obtenção de dados precisos é desafiadora. “Como não tem blindadora, os carros são blindados em São Paulo, na grande maioria, ou nas cidades Fortaleza (no Ceará) e Recife (em Pernambuco)”, informa a executiva.
Pará ainda não tem blindadoras operalizando de forma direta
Atualmente, não há empresas de blindagem de veículos operando diretamente no Pará. O estado conta apenas com uma espécie de terceirização e serviços de manutenção. Em decorrência disto, o Pará, não aparece nas estatísticas oficiais da Abrablin. São Paulo, por outro lado, aparece com mais de 23 mil veículos blindados no período. Já o Rio de Janeiro contabiliza 1.852 veículos, seguido pelos estados de Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Sul, com 982, 641 e 428, respectivamente.
A autorização para a blindagem é emitida pelo Exército na cidade onde o serviço é realizado, grande parte em São Paulo. Por isso, as atividades de blindagem desses veículos são registradas como se tivessem sido realizadas na capital paulista, sem entradas de registros junto ao Exército no Pará. Esse processo de envio de veículos para blindagem fora do estado e posterior retorno para assistência técnica local é comum devido à distribuição de blindadoras pelo país, com uma concentração maior em cidades como São Paulo e Fortaleza.
No caso da empresa de Danilo, ele informa que já existem planos de operacionalização diretamente em Belém. Hoje, o é fluxo interno, já que a empresa em Belém é uma filial da matriz, em São Paulo. “A gente é a única que tem estrutura apropriada, com funcionários adequados para poder começar blindar. E a gente tá querendo começar já no segundo semestre, com autorização junto ao Exército no Pará. Com isso, vamos ser a única blindadora, de fato, no Pará”, diz.
Nível 3A tem maior saída em Belém; saiba quais são disponíveis
Giselle explica que, no Brasil, a blindagem de veículos segue a norma técnica ABNT NBR 15000, que estabelece os requisitos de desempenho para materiais utilizados na blindagem e os métodos de ensaio. Esta norma classifica os níveis de proteção balística em uma escala que vai do I ao III-A, similar à classificação do NIJ (Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos), mas adaptada às necessidades e ao cenário de segurança brasileiro.
De acordo com a lojista, a demanda principal hoje em Belém é pela blindagem de nível 3A, que suporta calibres de 22 a 44 Magnum. A tendência é de aumento na demanda, e não se limita a carros de luxo, incluindo também veículos mais acessíveis e SUVs. Em relação aos serviços pós-venda, a manutenção é frequentemente necessária devido às condições climáticas, como chuvas e buracos nas estradas. Além disso, o mercado avança em materiais mais leves e eficazes.
Outro ponto citado é de que a blindagem leva em consideração o impacto do peso adicional na dinâmica e na performance do veículo. As empresas especializadas devem seguir ABNT NBR 15000 para garantir não apenas a eficácia balística, mas também a segurança veicular e a durabilidade da blindagem. Por isso, a escolha do nível de blindagem deve ser feita com base nas necessidades de segurança específicas do usuário, considerando o cenário de ameaças e o uso do veículo.
Níveis de blindagem, segundo a ABNT NBR 15000:
Nível I: Oferece proteção contra armas de baixo calibre, como revólveres .38 e pistolas .380. É menos comum devido à procura por níveis de proteção superiores.
Nível II: Amplia a proteção para incluir armas de calibre maior, como pistolas 9mm e revólveres .357 Magnum.
Nível III-A: É o nível de blindagem mais comum no Brasil, oferecendo proteção contra armas de fogo de calibre ainda maior, como pistolas .44 Magnum e submetralhadoras 9mm. Este nível é eficaz contra a maioria das ameaças que um civil pode enfrentar nas cidades brasileiras.
Níveis III e IV: são focados em oferecer proteção contra rifles de alto calibre, incluindo aqueles capazes de disparar munições perfurantes de armadura. Esses níveis de blindagem, especialmente o IV, são mais comuns em contextos militares ou em veículos utilizados em regiões de alto risco, onde há uma expectativa de enfrentar ameaças de armas de fogo de alto calibre.
As tecnologias mais utilizadas na blindagem de veículos:
Vidros blindados: Combinam várias camadas de vidro e policarbonato ou outros materiais poliméricos para criar uma barreira transparente que pode impedir a penetração de balas. A espessura e a composição do vidro blindado variam conforme o nível de proteção desejado.
Blindagem opaca: Para proteger a carroceria, são utilizadas chapas de aço balístico, fibras de aramida (como o Kevlar) ou combinações de materiais compostos. A escolha do material depende do nível de proteção, do peso e do impacto na performance do veículo.
Proteção para partes vitais do veículo: Elementos como o tanque de combustível, a ECU (Unidade de Controle do Motor) e a bateria são protegidos para garantir que o veículo possa continuar funcionando mesmo após um ataque.
Pneus run-flat: Essenciais para a mobilidade sob ataque, permitem que o veículo se afaste do perigo mesmo com os pneus furados.
Fonte: O Liberal.