Depois de casas conectadas, eletrodomésticos inteligentes e sensores por todo lado, a internet das coisas (IoT) chegou a um novo patamar: as fraldas de bebês. Nesta semana, a tradicional fabricante de fraldas Pampers anunciou o lançamento do Lumi, um novo sistema de “cuidado conectado”, que monitora a atividade dos bebês por meio de um sensor inserido nas fraldas.
Ainda sem preço definido, o sistema envia um alerta aos pais da criança, por meio de um aplicativo, toda vez que a fralda fica molhada. A plataforma, que chegará ao mercado americano ainda em 2019, também coleta informações sobre o sono do bebê e permite que os pais monitorem quando a fralda está suja e precisa ser trocada. Os sensores trabalham ainda em conjunto com um sistema de monitoramento por vídeo, por meio de câmeras também integradas ao aplicativo.
Crianças precisam de privacidade, diz especialista
É um sinal claro do crescimento da indústria de tecnologia para bebês. A internet das coisas invadiu as casas, prometendo tornar as rotinas e as tarefas mais eficientes. Empresas já lançaram berços digitais, luzes inteligentes noturnas, chupetas, mamadeiras que monitoram a alimentação e até aplicativos que reproduzem a voz de uma mãe ou pai tentando acalmar o bebê. Pesquisas apontam que o mercado de monitoramento interativo de crianças será avaliado em mais de US$ 2,5 bilhões em 2024.
Entretanto, com o crescimento de opções inteligentes para bebês e crianças pequenas, os pais também devem tomar decisões sobre o quanto de tecnologia deve ser usada, já que as crianças estão crescendo em um mundo cada vez mais conectado. “Mesmo um bebê ou uma criança precisam de um pouco de privacidade”, afirma Julie Lythcott-Haims, autora do livro How to Raise an Adult (Como criar um adulto, ainda sem tradução).
De fraldas inteligentes a redes sociais, o comportamento de pais de hoje em dia levanta questões de privacidade. Postar fotos, monitorar a criança por um app ou mesmo pesquisar informações sobre condições de saúde pode ajudar grandes empresas a criar perfis digitais que podem acompanhar essas crianças pelo resto de suas vidas.
Em vários casos, não está claro como dados de crianças de aparelhos conectados são usados e o quão segura é a tecnologia. Existem dezenas de exemplos de bebês ou crianças monitorados sendo hackeado. Em um incidente recente revelado pelo Washington Post, uma câmera inteligente Nest, do Google, instalada no quarto de uma criança, foi hackeada e começou a reproduzir pornografia.
Para a escritora Lythcott-Haims, os pais precisam ter cuidado ao usar ferramentas que coletam dados de crianças, mesmo nos primeiros anos de vida. O sistema Lumi, da Pampers, aplica criptografia nos dados e usa “os mesmos padrões de segurança utilizados na indústria de serviços financeiros”, disse Mandy Treeby, porta-voz da Pampers. O sistema ainda não inclui a autenticação de dois fatores, algo que especialistas de segurança consideram essencial para evitar acessos não autorizados aos sistemas.
O objetivo do sistema é aliviar o estresse dos pais. Treeby afirma que a experiência dos usuários com o sistema tem sido positiva.
Iniciativa não é pioneira, mas ainda pouco explorada
A Lumi não é a primeira iniciativa de fralda inteligente. Em 2016, a Alphabet, dona do Google, criou uma patente para “um sensor de fralda para detectar e diferenciar fezes de urina”. No ano passado, a empresa Huggies fez parceria com a companhia coreana Monit para lançar um sensor inteligente para fraldas na Coreia e no Japão.
O risco de tantos objetos ordinários se tornarem inteligentes é que isso os torna dependentes de atualizações de software, por exemplo – um produto pode perder sua conectividade com outros aparelhos se uma companhia resolver deixar o negócio ou descontinuar a linha. O tênis inteligente da Nike, anunciado com o preço de US$ 350, apresentou problemas este ano devido a uma atualização de software.
Fonte: Estadão