Os dados levantados pelos pesquisadores ainda apontam que o tucumã possui um grande potencial mercadológico e pode ser utilizado em diferentes áreas.
O tucumã, cujo nome científico é Astrocaryum aculeatum, trata-se de uma palmeira frutífera amazônica utilizada na produção de sorvetes e na culinária da região Norte, que cresce em boa parte da floresta Amazônia, com árvores espalhadas por mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, mostrando que o fruto possui um potencial mercadológico incalculável, contudo, apenas uma pequena fração dessa área está sendo utilizada atualmente.
Para aproveitar todo o potencial desse recurso natural, o professor doutor Antonio Claudio Kieling decidiu realizar estudos e encabeçou diversas pesquisas acerca da potencialidade mercadológica do tucumã, porém o pesquisador já havia desenvolvido uma madeira plástica sustentável produzida a partir do caroço do fruto, que vem sendo usada na indústria e na construção civil.
No processo de produção dessa madeira plástica, o caroço do tucumã é separado em duas partes: a castanha branca do interior – que também é comestível – e o endocarpo lenhoso que envolve essa mesma castanha. Depois disso, a parte do endocarpo lenhoso é moída para se obter um pó dessa madeira. Em seguida, esse mesmo pó do caroço lenhoso moído do tucumã é misturado com plástico moído reciclado. Depois disso, essa mistura de pó lenhoso e plástico moído é processada em injetora industrial para obter a madeira plástica de formas variadas.
A madeira plástica à base do caroço do tucumã fora inicialmente apresentada na tese de Doutorado em Biotecnologia de Antonio Claudio Kieling, em 2018. Um total de 11 diferentes testes científicos foram realizados na madeira plástica do tucumã. Foto: Divulgação
De acordo com Kieling, idealizador da pesquisa, a ideia do projeto e os estudos sobre o fruto começaram após a constatação de que apenas uma parte do tucumã era aproveitado em Manaus, sendo que um grande volume de caroços do fruto era descartado no lixo.
“Além de pouco se explorar o tucumã, quando se explora, faz-se da forma errada, porque quase todos os empreendedores locais que atuam com o fruto não utilizam todos os recursos do tucumã com sustentabilidade. Para se ter uma ideia, a quantidade total mensal comercializada em Manaus em 2017 foi de 83.077 kg, sendo que 49.840 kg são de caroços (30.537 kg é endocarpo lenhoso, madeira de tucumã), 20.777 kg polpa comestível e 12.460 kg material orgânico/cascas, que são jogados no lixo sem reaproveitamento”, comenta o professor.
O potencial mercadológico do tucumã
A pesquisa recente realizada por meio do Projeto de Apoio à Iniciação Científica (PAIC/FAPEAM) na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) englobou análises de diversas patentes derivadas do tucumã, em que se observou que as empresas com maior titularidade sobre as proteções intelectuais que se utilizam dessa matéria-prima são internacionais. Portanto, o Brasil explora muito pouco esse recurso natural amazônico e, nesse contexto, investimentos nessa área podem gerar grandes oportunidades mercadológicas para novos negócios.
Além de a madeira plástica à base do caroço do tucumã, a madeira do caule da palmeira dessa árvore pode ser utilizada na construção civil; as folhas fornecem fibras resistentes que podem ser utilizadas na fabricação artesanal de redes de pesca, redes de dormir, linhas para arcos de flecha, roupas, cestos, dentre outros produtos. O tucumã também se destaca na área de produtos cosméticos e medicamentos, pois o óleo da polpa do fruto possui propriedades antioxidantes e pode ser usado em diversas áreas nas mais variadas formulações, como também, a amêndoa interna do caroço do tucumã pode ser esmagada para se fabricar um óleo com excelentes propriedades de lubrificação.
Componentes do tucumã e as suas palmeiras. Foto: Divulgação
O desenvolvimento da madeira plástica contou com o auxílio da UEA, FAPEAM, UFAM e USP, contando também com as parcerias das empresas TUTIPLAST, INDT e TESCAN de São Paulo (SP).
A pesquisa do potencial mercadológico fora elaborada por Elisama Campelo, Larisse Drumond, Roberta Costa da Silva, Antonio Claudio Kieling, Fabiana Lucena Oliveira e Raimundo Corrêa de Oliveira.
A equipe de pesquisadores faz questão de agradecer aos professores Titulares Genilson Pereira Santana e Maria Cristina dos Santos da UFAM pelo apoio e pela orientação durante o desenvolvimento do projeto.