Em um primeiro momento, uma empresa de carteiras não parece um negócio muito inovador. Mas uma marca do interior do Rio Grande do Sul desafia essa lógica: a Dobra, que aposta em modelos feitos de uma fibra que se parece bastante com papel e em desenhos coloridos e “moderninhos”. A empresa, que tem sede na cidade de Montenegro, também vende camisetas, bolsas e tênis e está prototipando uma jaqueta. Todos esses produtos são feitos com o mesmo “papel” das carteiras.
A empresa também aposta em uma estratégia de comunicação diferente: todas as interações da Dobra são feitas pelo Batman, um pug que também é “CEO” do negócio. Os textos assinados pelo “cachorrinho executivo” têm linguagem bem informal, emojis e GIFs.
A Dobra aposta ainda em uma relação próxima aos clientes, iniciativas de impacto social, hierarquia horizontal e salários iguais para todos da equipe, inclusive para os sócios: os irmãos Guilherme e Augusto Hommerding Massena e o primo, Eduardo Seelig Hommerding.
Guilherme e Eduardo participaram do Encontro Nacional das Empresas Juniores (ENEJ 2019), em Gramado (RS). Durante o evento, realizado pela Brasil Júnior, a dupla falou sobre as estratégias inovadoras da Dobra. Com todos esse trabalho, a Dobra faturou R$ 2,7 milhões em 2018.
Confira abaixo alguns pontos interessantes – e que podem, talvez, servir de inspiração para seus projetos:
“As carteiras são o de menos”
A Dobra, de acordo com Eduardo, surgiu de um incômodo com as empresas tradicionais. “O atendimento delas é engessado e burocrático. Além disso, os funcionários são muito insatisfeitos. O mundo evoluiu e está mais conectado. A cabeça das pessoas está mais digital. Mas as empresas, em muito aspectos, operam como faziam há 100 anos. Somos críticos e decidimos fazer diferente.”
No fim, segundo ele, os produtos da Dobra chamam a atenção, mas não são o único fator de sucesso da empresa. “Nós criamos um negócio alinhado a esse novo momento e muita gente passou a gostar da Dobra. As carteiras foram o de menos nessa trajetória”, afirmou Eduardo.
O pug CEO
No mundo digital, as empresas normalmente criam “personas” para se relacionar com o público. Essas personalidades podem ser mais ou menos informais, de acordo com as pessoas que os negócios desejam impactar.
No caso da Dobra, essa persona é Batman, o cachorrinho da raça pug de Eduardo. Toda a comunicação da marca é assinada pelo simpático animal, que ocupa o cargo de CEO da empresa. “Esse tipo de brincadeira elimina barreiras e aproxima as pessoas da marca”, disse ele.
Quando se relaciona com os clientes, Batman é bem informal. “Usamos uma linguagem de WhatsApp e caprichamos nos emojis e nos GIFs. Trabalhamos bastante para criar uma estratégia de comunicação que tenha a ver com quem consome nossos produtos. Isso mostra que não tratamos nossos clientes como número, mas como gente”, afirmou Guilherme.
O fator “wow”
Surpreender os clientes é um esforço constante na Dobra, segundo seus sócios. Para começar, a produção da marca é totalmente artesanal, o que confere um aspecto exclusivo às carteiras, bolsas e tênis. “Nós não temos estoque. Só começamos a fazer os produtos após o cliente pagar pelo serviço”, disse.
Junto com o produto, os consumidores também recebem post-its com mensagens feitas à mão pelos funcionários. Os papéis têm mensagens diferentes conforme os clientes compram mais itens da Dobra. Em alguns casos, os post-its têm um ar de obra de arte. “Já mandamos mensagens com desenhos inspirados nos trabalhos de Vincent Van Gogh e na série ‘Todo Mundo Odeia o Chris’, por exemplo”, afirmou Guilherme.
Outra história contada no ENEJ foi a de um cliente que descobriu que ia ser pai. Junto com a carteira, a Dobra enviou um mordedor para o bebê. Em outro caso, um fã da marca teve o carro roubado. Nele, estavam colados adesivos que a Dobra envia junto com os produtos. “Mandamos mais adesivos para a pessoa. Também compramos um carrinho de fricção e demos um jeito de colar um miniadesivo nosso no brinquedo”, disse ele.
O chefe ganha o mesmo salário que todo mundo
Na Dobra, de acordo com os empreendedores, não há cargos hierárquicos – o único profissional com um cargo diferente é o CEO do negócio, Batman. Lá, inclusive, os salários são todos iguais, inclusive o dos fundadores. “Além disso, os horários são flexíveis e oferecemos férias ilimitadas para a equipe”, afirmou Eduardo.
Apesar de toda essa liberdade, a Dobra funciona com harmonia, de acordo com o sócio. “Isso só é possível porque temos uma cultura corporativa muito forte. Os colaboradores entendem que quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade deles.”
Impacto social
A Dobra também aposta em iniciativas que beneficiam a sociedade. No ENEJ, Guilherme e Eduardo falaram sobre dois projetos. O primeiro é o Mãos à Dobra, em que a empresa pediu para crianças de uma escola de Montenegro fizessem desenhos de carteiras. Os modelos foram colocados à venda no e-commerce por alguns meses. O dinheiro dos produtos foi usado na reforma do pátio do colégio. O segundo foi a Black Friday Social, em que clientes que fizeram doações a projetos sociais ganhavam uma carteira a cada produto que comprassem.
Pode copiar!
É comum ver empreendedores que, por medo de ser roubados, evitam compartilhar ideias e estratégias com outras pessoas. Na Dobra, esse receio não existe: a empresa inclusive coopera com os concorrentes que desejam copiar suas carteiras. “Toda a nossa estratégia é bastante complexa. Não é copiando as carteiras que eles vão ter sucesso. No fim, de verdade, as carteiras são o de menos no nosso trabalho”, disse Eduardo.
Até por isso, a empresa lançou o site https://comocopiaradobra.com.br/, em que compartilha os moldes para fazer as carteiras, dá dicas para criar o design dos produtos, mostra como se relacionar bem com os clientes e compartilha as estratégias de impacto social da marca. “Mas já antecipamos que o trabalho é mais difícil do que pode parecer”, afirma o sócio.
Fonte: PEGN