Marcel Grecco nunca imaginou que iria se envolver com o mercado de maconha medicinal. Muito pelo contrário, até 2015, a sua carreira seguiu uma linha bem tradicional. Formado em administração, ele trabalhou desde cedo na empresa de sua família. “Aprendi empreendedorismo já no berço”, diz.
Tudo começou a mudar quando Grecco se interessou na chamada “nova economia” (baseada em serviços e não mais na indústria) e no ecossistema de inovação. “É legal ver como o mundo está se alterando rapidamente.”
Não querendo ficar pra trás, ele resolveu investir nessa área. Mas qual mercado apostar? Qual modelo de negóciosadotar? Antes de tudo, Grecco precisava responder a estas perguntas – e a única forma de se fazer isso é com muita pesquisa. Foi durante esse processo que o mercado de cannabis medicinal chamou sua atenção.
A primeira pista do potencial destes produtos estava no avanço das regulamentações pelo mundo. Países como Israel já haviam flexibilizado sua legislação para permitir o uso medicinal da maconha.
Na época, o Brasil também demonstrava avanços. Um exemplo disso foi a retirada do canabidiol (um dos compostos ativos da maconha) da lista de substâncias proibidas no país, em 2015. Isso não passou despercebido por Grecco.
Além dos usos medicinais, o empreendedor identificou a possibilidade do uso industrial do produto, por meio do cânhamo, a fibra da planta. “Poucas substâncias têm tantas utilizações como a cannabis.”
Caindo de cabeça no negócio
Com o mercado identificado, agora era hora de estruturar o negócio. Mas, segundo Grecco, criar um empreendimento rentável não era o suficiente. Era preciso construir algo com um impacto relevante para a sociedade.
Segundo estudos da agência norte-americana National Institute on Drug Abuse (Instituto Nacional de Abuso de Drogas, em português), as substâncias presentes na maconha têm importância medicinal. Além do canabidiol, o tetraidrocanabinol (THC) tem funções clínicas.
Os dois compostos têm alto poder de cura no tratamento de dores, ansiedade e de doenças do sistema nervoso. Há pesquisas que apontam que a maconha pode inclusive desacelerar o desenvolvimento de células doentes no organismo.
Nesse contexto, democratizar o acesso a esses produtos e levar conhecimento sobre os seus benefícios se tornou uma meta para Grecco. ”Queremos proporcionar um acesso mais fácil, justo e com educação.”
Para cumprir este propósito, nascia a The Green Hub, em 2016.
Uma aceleradora diferente?
O The Green Hub consiste em uma aceleradora de startups que tenham como objetivo o uso da maconha medicinal.
Segundo Grecco, pelo mercado ser novo, foi necessário iniciar os trabalhos validando o programa de aceleração da Green Hub. A melhor forma encontrada para fazer isso foi realizar o primeiro ciclo de aceleração da empresa, em dezembro de 2017, com duas startups próprias: o CEC e a Anella.
O CEC (ou Centro de Excelência Canabinoide) é uma startup que visa prestar consultoria e cursos para profissionais da área médica sobre a cannabis medicinal. Já a Anella é um software que tem como objetivo orientar os médicos sobre os melhores tratamentos e criar um canal digital para comunicação com os pacientes.
Para embasar a criação desses negócios perante o mercado, a The Green Hub realizou uma parceria com a empresa de inteligência de mercado New Frontier Data. O resultado foi um relatório que faz projeções do mercado da cannabis medicinal no Brasil e os benefícios que o país teria com a regulamentação do produto.
Grecco conta que o plano era iniciar um novo ciclo de aceleração em 2019, mas novidades fizeram essa ideia ser adiada. A The Green Hub firmou uma parceria com a joint venture 4H Tecnologia em Saúde. “Com a parceria, queremos ajudar empresas que atuam em outros segmentos da área da saúde a entrar no meio dos canabinoides”.
Com a parceria, a The Green Hub deixa de ser apenas uma aceleradora, mas uma consultoria de assuntos relacionados à cannabis medicinal. A empresa também vai prestar assessoria jurídica e gerir projetos voltados à tecnologia.
Apesar desta nova fase, um novo ciclo de aceleração está nos planos da empresa. A expectativa é que ele aconteça no início de 2020.
Mercado promissor
De acordo com Grecco, a abertura cada vez maior ao uso medicinal da maconha é uma vitória, sobretudo, das associações de pacientes e familiares. “Esses movimentos abriram mais a cabeça da população e do mercado.”
A Anvisa, órgão responsável por regulamentar o uso desses medicamentos no país, também aparenta estar mais aberta para esse diálogo. Uma consulta pública foi realizada para saber o parecer da população quanto ao cultivo medicinal da planta no país.
Para Grecco, essa consulta apresenta um passo importante. Caso a proposta vá para a frente, o empreendedor enxerga benefícios que iriam além do setor de saúde – e trariam oportunidades de negócio. “Uma eventual nova legislação pode ampliar o mercado.”
Fonte: PEGN