Não há dúvidas de que o conhecimento técnico é fundamental para desempenhar funções no mercado de trabalho. Só que as mudanças no perfil dos consumidores, as novas tecnologias e a globalização passaram a exigir que profissionais e empresas também mudem sua postura, adicionando a sua cultura e forma de atuação os chamados “social skills”, ou seja, habilidades sociais que humanizam o trabalho.
Para a coordenadora do curso técnico em recursos humanos do Senac-RS, Aline Pereira da Silva, o mundo do trabalho está em um momento em que não basta oferecer aos colaboradores apenas retorno financeiro. “Ter um bom ambiente de trabalho faz diferença”, explica.
As empresas podem se preparar para isso com medidas que visam motivar o colaborador, para que ele esteja sempre engajado. “Ações voltadas para a qualidade de vida, respeito, valorização e reconhecimento das necessidades dos colaboradores”, exemplifica Aline. Isso gera um clima melhor no trabalho, com funcionários mais felizes, o que também reflete na forma como interagem com o consumidor.
Corporações que atuam com alta exigência de habilidades técnicas de seus funcionários também têm dado mais atenção para as competências socioemocionais. É o caso do Grupo CCR, que engloba concessionárias na área de infraestrutura de transporte e precisa de profissionais altamente capacitados. “Acompanhando as demandas e desafios destes novos tempos, fica claro que essas competências são tão importantes quanto as técnicas, como a capacidade de relacionamento interpessoal, comunicação, empatia e gestão de pessoas”, explica Márcia Takayanagi, superintendente de gestão de pessoas do Grupo CCR.
Para isso, além de um olhar diferenciado na contratação de novos colaboradores, o Grupo CCR atualizou seu modelo de competências O objetivo é desenvolver um processo de revisão de iniciativas de desenvolvimento profissional. “Para o aprimoramento dos nossos profissionais, contamos também com uma plataforma de treinamento chamada Nosso Mundo do Saber, onde são oferecidos diversos cursos comportamentais e técnicos, de modo que cada um possa trabalhar o seu desenvolvimento”, explica Márcia.
Em 2018, a empresa criou o Programa Nova Jornada, voltado para colaboradores acima dos 60 anos, que estão se preparando para o período pós-carreira. Esse programa será ampliado para incluir profissionais acima dos 45 anos. Pensando na oxigenação do quadro, em 2019 foi retomado o programa trainee, que abriu 18 vagas para novos profissionais.
A inclusão é outro ponto importante para as empresas. No Grupo CCR, o Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência existe desde 2007. “Valorizar as diferenças e oferecer oportunidades iguais para todos é um dos princípios básicos, e as histórias de profissionais com deficiência em nosso quadro de funcionários define bem como a empresa promove verdadeiramente a inclusão”, destaca.
Capacidade analítica e conhecimento real
O mundo vive um momento disruptivo onde tecnologias como internet das coisas, big data, inteligência artificial estão cada vez mais presentes. Com isso, a exigência no mercado de trabalho é de que o profissional se aperfeiçoe para lidar com esse novo cenário, segundo o diretor-geral do Senai e diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi.
Lucchesi destaca que o emprego não desaparecerá, mas os profissionais precisarão ter domínio das novas tecnologias e novas competências, que devem substituir as atividades rotineiras, já que muitas delas serão feitas por máquinas. “Você tem de ter mais capacidade analítica de informação, de análise e criticidade. Vai ter mais colaboração e criatividade para a solução de problemas”, comenta.
Para Samir Iásbeck, CEO e criador da plataforma mobile de aprendizado Qranio, o conhecimento real será cada vez mais importante na hora de selecionar um novo colaborador. Ele exemplifica que, em sua empresa, candidatos a vagas de programação são submetidos a um teste. A intenção é ir além do currículo e dos diplomas que o profissional tem, focando em sua real habilidade de programar: “O profissional do futuro é o que tem o conhecimento real. Ele tem o domínio daquilo, o know-how”, comenta Iásbeck.