raticamente qualquer pessoa que vá a uma aula hoje em dia o faz acompanhada de seu smartphone. Mas, se é um companheiro indissociável das pessoas no dia a dia, dentro da sala de aula ele acaba se tornando empecilho e fator de distração. Cenário que motiva até mesmo o banimento do aparelho de escolas em países como a França.
Mas como se pode encontrar o equilíbrio certo do uso da tecnologia na educação? Esse foi um dos tópicos abordados hoje por Jim Knight, chefe de educação na TES Global, plataforma britânica para capacitação e desenvolvimento de professores, e ex-ministro da educação e do emprego do Reino Unido. Ele participou do primeiro dia de Brazil at Silicon Valley, conferência que debate os desafios para a inovação no Brasil na Universidade de Stanford. Época NEGÓCIOS transmite o evento ao vivo.
Para ele, a introdução da tecnologia ao ambiente educacional se fez de maneira errada, negando aos professores o uso desses recursos dentro da sala e incentivando fora dela a utilização desenfreada de dispositivos. “Se eu saio de casa sem minha caneta, não muda muito. Mas se eu esqueço o telefone, é um desastre. E não conseguimos refletir isso de forma benéfica no ensino, usando a tecnologia de forma inteligente para criar valor”, apontou, no painel em que dialogou com Iona Szkurnik, uma das conselheiras do evento e membro do conselho de alunos da Escola de Educação de Stanford.
Faltam, afirma Knight, estratégias para colocar as melhores tecnologias à disposição do professor, o que acaba tornando-os reféns de métodos tradicionais. Enquanto isso, alunos em universidades estão o tempo todo olhando seus celulares. “Para os professores, a importância de ter essas ferramentas nas mãos é extraordinária, mas muitos deles estão assustados porque não foram treinados em relação a isso. É uma grande falha que precisa ser revertida, tanto nas escolas quanto nos sindicatos de professores”, opina.
O britânico comentou experiências frustradas que ele próprio teve em ONGs que visavam usar ferramentas tecnológicas para ensinar crianças. E disse que, da mesma forma que é preciso ambientar os professores aos recursos, se faz necessário um cuidado maior com o nível de acesso que as crianças têm hoje a qualquer tecnologia. “Na minha casa não permitimos a tecnologia nos quartos, porque acho que se precisa descansar a mente e o corpo ali. E me preocupa como a tecnologia afeta o sono das crianças. É algo que também afeta a educação”, diz.
Para Jim Knight, foi o tempo em que, na relação entre universidades e empresas, interessava a essas últimas simplesmente atrair os melhores alunos das mais graduadas instituições para seus quadros. Hoje, além de competência técnica, a sociedade e as companhias requerem também um olhar criativo e diverso sobre seus jovens profissionais – mas as universidades vêm falhando em proporcionar isso.
Knight é um crítico do que chama de “funil” das universidades: o papel que acabam cumprindo, já no vestibular, em selecionar apenas uma elite intelectual para levar aos melhores empregos. “Não podemos ficar descartando as pessoas porque elas não passaram em uma prova. Precisamos trazer talento nato, em sistemas que valorizem técnicas e também valores humanos”, afirmou.
Segundo ele, já é possível ver mudanças nesse sentido acontecendo em países como Singapura e Finlândia, que já costumavam estra na vanguarda da educação. O que se faz nesses países, diz Jim Knight, é incentivar o ensino criativo – o que implica não apenas apresentar respostas definitivas, mas assumir que mais importante do que elas, são as perguntas que devem ser feitas.
“Esses países perceberam que esse nosso paradigma educacional de técnica e contabilidade não funciona, só faz com que nos afastemos de um bom resultado. E que precisamos pensar de forma mais profunda, ter mais de inteligência colaborativa”, aponta.
Fonte: Época