A área de extração de madeira em Roraima cresceu 584% nos últimos dois anos, segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) na sexta-feira (23).
O estudo mostra que entre agosto de 2021 e julho de 2022, foram mapeados 1.671 hectares de exploração no estado. À época, a extração madeireira autorizada explorou 1.184 hectares e a ilegal, 487.
De agosto de 2022 a julho de 2023, 11.442 hectares foram explorados para a extração de madeira. Desse número, 9.319 hectares (82%) foram explorados sem autorização, e 2.103 hectares (18%) de forma autorizada.
“Os dados de Roraima apresentaram aumento significativo em relação ao período analisado anteriormente e isso tem uma justificativa lógica no aumento da extração e, também, pela melhoria nas condições atmosféricas anuais, pois para a análise são utilizados dados de sensores orbitais passivos que podem apresentar inconsistências na identificação em períodos de muita nebulosidade e/ou cobertura de plumas de fumaça”, esclarece Heitor Pinheiro, especialista em geoprocessamento e analista do Idesam.
Das explorações não autorizadas em Roraima em 2023, 81%, o equivalente a 7.531 hectares, foram identificadas em Imóveis Rurais Privados. Cerca de 857 hectares (9%) foram em assentamentos rurais, outros 810 hectares (9%) em áreas não destinadas, e o 1% restante em outras categorias fundiárias.
Entre os assentamentos rurais mais explorados estão os Projetos de Assentamento (PA) Dirigido Anauá, Cupiúba,Trairi, Ladeirão, Integração e Jatapu, localizados na região ao Sul do estado.
Os municípios de Roraima com o maior número de exploração ilegal entre agosto de 2022 e julho de 2023, em hectares, foram:
- Caracaraí, com 5.102;
- Rorainópolis, com 2.400;
- São Luiz, com 878;
- Mucajaí, com 436;
- Caroebe, com 364;
- Cantá, com 93;
- São João da Baliza, com 45.
Os dados são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), formado por instituições de pesquisa ambiental integrada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Idesam, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e o Instituto Centro de Vida (ICV). O Simex produz informações sobre a atividade na Amazônia Legal e nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima.
Transparência combate fraudes
De acordo com o consultor do Idesam, Pablo Pacheco, a falta de transparência afeta o acesso ao cenário concreto de informações sobre a exploração madeireira na Amazônia. As análises de legalidade da exploração madeireira precisam de dados claros sobre as práticas de exploração e a gestão florestal para avaliar riscos e garantir que as empresas envolvidas na atividade cumpram o que determina a legislação ambiental.
“A falta de dados transparentes torna difícil quantificar os impactos da exploração madeireira sobre a biodiversidade e os ecossistemas. O que impede a criação de estratégias adequadas para mitigação e adaptação da atividade de exploração madeireira”, explica o consultor.
Na análise dele, a escassez de dados confiáveis sobre a quantidade de madeira extraída, as áreas desmatadas e as práticas de manejo florestal dificultam a avaliação precisa dos impactos ambientais e sociais da exploração madeireira, agravando a situação de exploração e facilitando as fraudes.
“As comunidades locais frequentemente dependem dos recursos florestais, e a transparência nas operações madeireiras é essencial para assegurar seus direitos e promover o engajamento em práticas sustentáveis. A falta de transparência pode levar a conflitos sociais. Ademais, políticas públicas eficazes dependem de informações sólidas. A ausência de dados adequados impede a formulação e a execução de políticas de proteção e manejo sustentável das florestas”, completa Pablo Pacheco.
O diretor-técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento, André Luiz Vianna, alerta que a exploração ilegal, além dos danos ambientais, pode gerar situações de riscos aos trabalhadores do setor e impacto negativo no mercado.
“A atividade madeireira licenciada é importante para o estado e para a sociedade, pois gera arrecadação de impostos, empregos e movimenta recursos relacionados a essa cadeia. Também permite a manutenção da cobertura florestal e, quando realizado por populações tradicionais, gera renda e proteção dos territórios”, analisa Luiz Vianna.
Fonte: G1.