Em 2024, um pedaço da história do cinema irá entrar em domínio público.
A Disney irá perder os direitos autorais sobre o seu curta-metragem de animação de 1928, Steamboat Willie (“O Vapor Willie”, em português), que marcou a primeira aparição do seu personagem mais emblemático, o camundongo chamado Mickey.
O curta de animação não marcou apenas a estreia de um ícone cultural global.
Ele abriu o caminho que levaria Walt Disney (1901-1966) a construir o seu império – e foi um momento fundamental do desenvolvimento do cinema, ao acrescentar o som sincronizado aos desenhos animados.
Na época da estreia, Disney estava perto da falência. Ele havia acabado de perder os direitos da sua primeira criação popular, Oswaldo, o Coelho Sortudo, e a maior parte dos seus funcionários havia sido contratada por um concorrente.
Desapontado e quase sem dinheiro, Disney fez com que seus animadores Ub Iwerks (1901-1971) e Les Clark (1907-1979) trabalhassem em uma ideia que ele tinha na manga – um camundongo simpático que passa por uma série de desventuras cômicas.
O camundongo foi inicialmente batizado de Mortimer, até que a esposa de Disney o convenceu a mudar o seu nome para algo menos pomposo: Mickey.
Disney já era fascinado por animais há muito tempo. Ele chegaria ao ponto de organizar um curso de anatomia animal para seus artistas antes da produção de Bambi (1942). Disney descreveu a iniciativa em entrevista exclusiva à BBC em 1959.
“As escolas de arte não ensinam corretamente a anatomia dos animais e, por isso, criei um curso específico”, ele conta.
“Trouxe animais para o estúdio nas nossas aulas de arte. Em vez de modelos humanos, tínhamos modelos animais.”
Disney não conseguiu convencer os distribuidores a lançar seus dois primeiros desenhos mudos de Mickey Mouse, até que ele teve uma ideia inovadora.
Inspirado pelo filme com diálogos sincronizados que surpreendeu os Estados Unidos em 1927 – O Cantor de Jazz –, Disney decidiu criar um desenho com a ação na tela detalhadamente sincronizada com uma trilha musical e efeitos sonoros.
O Vapor Willie estreou em Nova York, nos Estados Unidos. Seu casamento inseparável entre o som e as imagens foi um sucesso instantâneo.
Críticas elogiosas começaram a surgir rapidamente na imprensa e as pessoas se aglomeravam para ver o desenho.
Sua forma inovadora de contar histórias em desenho animado entusiasmou o público, que muitas vezes pedia ao técnico de projeção que atrasasse o início do filme principal, para poder assistir ao curta novamente.
Disney capitalizou rapidamente a popularidade do personagem com novas aventuras. O próprio cineasta passou a interpretar a voz de Mickey Mouse.
Uma nova era
O sucesso de O Vapor Willie trouxe consigo uma nova era para os desenhos animados.
Ele traçou o caminho que levaria Walt Disney a dominar o setor em 1937, com a criação do longa-metragem vencedor do Oscar, Branca de Neve e os Sete Anões.
Para a produção de Bambi, cinco anos mais tarde, além de trazer animais vivos para o estúdio, Disney também queria ver os animais no seu próprio ambiente selvagem.
“Percebi que os animais em cativeiro não são eles próprios”, declarou ele à BBC em 1959. “Quando você vê um animal no zoológico não é o animal real, como quando ele está na natureza.”
“Por isso, enviei equipes de filmagem para o ambiente selvagem, para capturar o que um animal realmente faz no local onde ele vive. E, no filme que trouxe para os artistas estudarem, percebi que havia ali uma grande história que nunca havia sido contada.”
Disney usou sua inspiração para lançar um projeto ambicioso, chamado True-Life Adventures – uma série de documentários que oferece uma visão fascinante da vida dos animais na selva.
Da mesma forma que na animação, a equipe de cinegrafistas de Walt Disney fez avançar os limites da tecnologia e da inovação.
O estúdio foi pioneiro no uso de lentes de longo alcance e câmeras subaquáticas.
Estas técnicas permitiram ao público observar o comportamento dos animais selvagens e a complexa interação entre os diferentes ecossistemas com detalhes sem precedentes.
Com seu cuidadoso equilíbrio entre os propósitos educativos e suas envolventes histórias, a série ganhou diversos Oscars, incluindo o primeiro Oscar de melhor documentário para O Drama do Deserto, em 1954.
“Nos últimos anos, nós nos aventuramos em muitos campos diferentes”, declarou Disney, sobre seu império em expansão.
“Só espero nunca perder de vista uma coisa: que tudo começou com um rato.”
*Com informações do site BBC Brasil