No quinto dia útil do mês, mais de 200 mil bolsistas de mestrado e doutorado ainda não receberam pagamento do MEC-Ministério da Educação.
A universidade produz conhecimento. Flavia Santiago de Oliveira, por exemplo, pesquisa sobre a Covid na Federal de Minas Gerais. Para isso, ganha uma bolsa de R$ 2,2 mil por mês. O crédito tinha que ter sido feito até esta quarta-feira (7), quinto dia útil do mês, mas ainda não aconteceu.
“A bolsa não é um auxílio, ela é meu salário, é o que eu recebo para fazer o que eu faço no laboratório. É para desenvolver o projeto de pesquisa”, diz Flavia, farmacêutica e doutoranda em genética pela UFMG.
Os pagamentos estão atrasados por causa do bloqueio de verbas do Ministério da Educação. Nesta quarta (7), o governo fez um remanejamento e liberou R$ 300 milhões para a pasta. Só que o valor não é nem metade do que foi bloqueado na semana passada.
Pelos cálculos da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, o MEC precisa atualmente de pelo menos R$ 1,1 bilhão para pagar só as despesas em aberto neste momento, que incluem bolsas e contas de custeio.
Na terça-feira (6) à noite, a Capes – órgão vinculado ao Ministério da Educação – informou que não tem dinheiro para pagar mais de 200 mil bolsas destinadas a alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A notícia pegou Bianca Caroline Bortolin de surpresa.
“A primeira sensação que vem é de desespero, porque para gente ser bolsista Capes tem que ser dedicação exclusiva. Então, nós não podemos exercer atividades remuneradas fora do processo da Capes”, afirma Bianca, doutoranda em Geografia pela Unesp
Na Universidade de São Paulo, que é o maior centro de pós- graduação do país, a Capes financia mais de seis mil bolsistas. A situação é tão preocupante que nesta quarta a USP liberou os restaurantes para que os bolsistas que estão sem receber possam comer de graça.
“Noventa por cento do que é produzido de conhecimento novo no Brasil vem da pós-graduação e isso é uma garantia para o nosso futuro. Quem trabalha com pesquisa tem uma satisfação pessoal incrível, mas desde que possa também ter condições dignas de vida, e nesse caso, nesse momento atual, isso está em risco”, diz pró-reitor de pós-graduação da USP, Márcio de Castro.
O Ministério da Economia declarou que a execução do orçamento tem sido desafiadora neste fim de ano, que teve que realizar bloqueios em diversos ministérios e órgãos para cumprir o teto de gastos, que remanejou mais de R$ 3 bilhões em recursos e que segue acompanhando as demandas dos diversos órgãos do poder Executivo e trabalha para o atendimento desses pleitos, sempre respeitando o arcabouço fiscal.
*Com informações do site G1