Noémia de Sousa, escritora moçambicana, será um dos temas de curso do Centro de Estudos Africanos da USP – (Imagem: Reprodução / FFLCH)

Curso da USP propõe educação antirracista por meio da literatura africana

O Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP promove o curso de difusão Leituras Africanas, Afro-Brasileiras e Afro-Portuguesas: conversas literárias por uma educação antirracista. As inscrições podem ser realizadas pelo Sistema Apolo até o dia 14. As aulas serão gratuitas e ocorrerão de forma on-line, com transmissão ao vivo pelo Google Meet, entre os dias 17 de setembro e 10 de dezembro, sempre aos sábados.

O curso disponibilizará 60 vagas. Caso o número de inscritos seja superior ao de vagas, as matrículas serão realizadas via sorteio. Todos os participantes que possuírem frequência mínima de 75% receberão certificados de conclusão de curso, emitidos pelo serviço de Cultura e Extensão da FFLCH.

De acordo com a organização, o evento foi pensado para refletir acerca das escolhas literárias no espaço escolar e para repensar a cultura desenvolvida pela educação, que ainda não possui um programa antirracista formal. O objetivo é apresentar autores e textos das literaturas africanas de língua oficial portuguesa e da literatura negra brasileira, a fim de ampliar o repertório construído por autores negros como protagonistas na construção das narrativas, não apenas coadjuvantes. O intuito também é praticar a leitura coletiva e colaborativa e refletir acerca das escolas literárias no espaço escolar.

“Apresentar textos de escritores africanos e afro-brasileiros não apenas cumpre o que está previsto na lei, mas possibilita compartilhar textos que implicam um conjunto de práticas discursivas em que predomina a resistência às ideologias colonialistas e que, obrigatoriamente, exige um alargamento do corpus com que a escola usualmente trabalha”, afirma Rosangela Sarteschi, vice-diretora do Centro de Estudos Africanos da USP e coordenadora do curso de difusão. A lei a que se refere é a 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para implantar a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas de Ensino Fundamental e Médio. Contudo, essa obrigatoriedade, ainda, enfrenta alguns obstáculos para se estabelecer de forma completa, acessível a todos.

Programação

As aulas abordarão diferentes temáticas da literatura negra e suas relações com a vida cotidiana. No primeiro encontro, será abordada a experiência e a subjetividade negra em Contos Crespos, de Cuti – pseudônimo de Luiz Silva. Nesta obra o foco central são as personagens negras e a narrativa se concentra na paternidade responsável, que tem realce na busca de um pai por uma boneca negra para a filha. Situações ainda comuns no nosso país que tornam visível a presença do preconceito racial nas microviolências do cotidiano, conforme relata a ministrante do curso Emily Cristina dos Ouros, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da FFLCH.

“Atualmente, nota-se um avanço expressivo em relação à oferta de bonecas negras, o que, de certo modo, revela como a literatura de Cuti já se mostrava preocupada com tais questões, numa época em que isso pouco se debatia. Tais aspectos tornam sua literatura fundamental para trazer o racismo para o centro do debate e para desconstruir os efeitos do racismo estrutural tão presente na sociedade. É também a partir dessa consciência social que se constrói uma postura antirracista”, ressalta Emily.

O curso também abordará o trabalho de alguns escritores brasileiros e estrangeiros. Serão estudadas as obras da escritora cearense Jarid Arraes, conhecida pelos cordéis que resgatam a identidade negra nordestina, e do escritor moçambicano Mia Couto, autor da obra Terra Sonâmbula, fábula que mescla fantasia e relatos reais africanos. Feminismo, multiculturalidade e negritude são alguns dos assuntos que serão debatidos nas aulas.

“Por isso, abordar, no curso, escritores negros com obras que explicitam essa condição revela um posicionamento claramente ideológico, porque se coloca contra silenciamentos e apagamentos históricos da tradição, da história e da cultura afro-brasileira e tem uma função inestimável para a formação dos leitores como o que envolve o trabalho desses cursistas. Nesses espaços, a produção literária chamada nacional, com fortes vínculos com a história, nasce sob o signo da reivindicação, trazendo para si a função de participar do esforço de construir um espaço de discussão sobre a condição colonial, preenchendo as lacunas deixadas pelo discurso oficial da história metropolitana”, completa a coordenadora do curso.

Confira a programação completa abaixo:

Curso Leituras Africanas, Afro-Brasileiras e Afro-Portuguesas: conversas literárias por uma educação antirracista

Inscrições de 09/09 a 14/09 neste link
60 vagas | curso gratuito
Público-alvo: Professores da educação básica, gestores escolares, responsáveis pela sala de leitura, bibliotecários, pedagogos hospitalares (ou profissionais que promovem a leitura no ambiente hospitalar)
Duração: 17 de setembro a 10 de dezembro; quinzenalmente, aos sábados.

Mais informações: tel. (11) 3032-9416, e-mail cea@usp.br, site http://www.fflch.usp.br/cea

*Com informações do site Jornal da USP

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