Os últimos quatro ou cinco meses foram movimentados no Brasil por conta das eleições. Teve de tudo: de fake news a sangue, estava valendo tudo! Parecia drama de novela mexicana! E é nesse cenário, que deixaria Steven Spilberg inspirado para uma nova produção hollywoodiana ou não, que vou contar as lições que eu aprendi com esse episódio.
Como a situação do País é perturbadora há anos, preferi focar nas eleições presidenciáveis, que concentraram o maior número de cabos eleitorais do mundo, ou seja, praticamente os habitantes do Brasil, excluindo os votos em branco, nulos, as abstenções e eu que não fiz esse papel. Talvez a gente até entrasse para o Guinness Book…
Caliente baby
Enfim, consegui entender – na prática – porque falam que o povo latino-americano é tão emocional, quente e passional. Pensava que no caso do Brasil esse aspecto cultural se traduzisse no swing, na ginga do samba, nas curvas das mulatas do carnaval e naquela cantada meia tigela que o brasileiro nem dá mais.
Mas, não! Vai muito além da discussão acalorada sobre o jogo de futebol, onde entre mais de milhões de juízes – cada um deles – acredita piamente ter o ponto de vista correto sobre um lance qualquer de 15 segundos. Isso tudo regado a variações no tom de voz, gestos descontrolados e o coração quase na boca!
Quente como a eleição presidencial
E olha que a minha opinião não é achismo, coisa do senso comum. Para ratificar meu ponto de vista sobre a emotividade latina, encontrei uma reportagem da Gazeta do Povo, de 2015, que aborda o assunto. Lá, uma pesquisa do Instituto Gallup, que avaliou 148 países, classificou o povo latino como o mais emotivo do planeta.
A lista encabeçava El Salvador, com 59% dos entrevistados com os nervos à flor da pele, porém, nós, brasileiros, ficamos com 52%, nada mal para o nosso temperamento apimentado! Isso significa dizer que as eleições por aqui foram à base de sangue nos olhos e cabeça quente, além de polarizada e atípica.
Nunca tinha percebido esse talento do povo em vender tão bem suas ideias. Fiquei imaginando se fossem vendedores, bateriam as metas mensais facilmente, desde que os clientes saíssem vivos.
Gente ética e jogo sujo
Também nunca vi tanta gente correta, ética e com elevada e incondicional moral proteger tanto a índole do seu candidato. Inclusive, espalhando fake news e denegrindo a imagem do candidato opositor pra fazer valer a sua preferência. Botando as mãos no fogo, correndo o risco de perdê-las por conta de candidatos frutos desse mesmo povo que se diz tão correto, mas que adora furar a fila do banco e estacionar o carro em local proibido. Ahh vá!
Lado pessoal
Outra coisa que aprendi é que brasileiro não sabe debater, não considera um cenário mais amplo, contextualizando os dois lados da mesma moeda. Ele lê uma notícia, sem verificar a veracidade da fonte, e a partir dela constrói todo o seu repertório, sem um pingo de senso crítico ou equilíbrio nas opiniões. Tudo pende só pra um lado.
Então se não sabe dialogar, parte para o quebra-quebra, pras facadas ou seja lá o que for. Te exclui do Facebook ou finge que não conhece você num encontro casual, pois faz da opinião alheia motivo de distanciamento.
Olha, eu não estou aqui defendendo nem Fernando Haddah e nem Jair Bolsonaro, e não é porque fico em cima do muro, porém não acredito em posicionamentos tão extremistas, cada um numa ponta da corda. Ainda acredito que a postura do presidente deva ser a de equilíbrio e união. Portanto, pra mim, não existe um salvador da pátria.
Salvador da pátria só na novela
Ah! Isso é outra coisa que quero dizer: não existe salvador da pátria mesmo! Assim como o Papai Noel vive só nos nossos corações o salvador da pátria é uma ilusão.
Não vai surgir o mocinho da novela das nove e salvar aquela pobre moça pobre e frágil, injustiçada e tudo terminar num lindo caso de amor. Oras, estão pensando que o jogo acabou? Que ganhou ou perdeu e the end?
É agora que o game começa. Jair Messias Bolsonaro terá uma missão hercúlea à frente. Precisará ter muito equilíbrio e bom senso pra colocar a casa em ordem. E tudo o que podemos fazer neste momento é rezar para que ele leve este País pra frente!
Bate-papo
Aprendi também que eleição é coisa participativa e isso o brasileiro finalmente se deu conta. Com ou sem escolaridade, independentemente da classe social, o brasileiro mergulhou nessa luta, talvez não com as armas corretas, mas, percebeu que ele é a peça-chave da engrenagem política do País, e se deu conta do valor do seu voto!
Raras foram as conversas que não acabavam em política. Desde a rápida corrida de táxi aos cafezinhos na empresa, ou no papo na fila do mercado ou do banco, as pessoas comentavam, faziam ferrenhas colocações ou vendiam o seu candidato ou maldiziam o concorrente.
Espaço virtual
Também senti como a campanha presidencial saiu do mundo físico e ganhou corpo nas redes sociais, smartphone e WhatsApp. Só para ter ideia em 2014 éramos 20 milhões de usuários do Whats e em 2018 somos 120 milhões. Os grupos fervilharam, houve briga, desentendimentos e muita gente ficou brava, bateu as portas e saiu injuriada.
No Facebook os memes reinaram como vedetes na timeline dos usuários. E foi lá que o Bolsonaro fez boa parte da sua campanha e angariou milhões de seguidores, depois do golpe a facas.
Reinventar é preciso
Também deu pra notar que partidos como o PSDB e PT, por exemplo, precisam repensar suas estratégias e se reinventarem, assim como os partidos de esquerda que – de modo geral – se perderam em meio às ideologias do tempo do onça e que perderam a aderência às demandas socioeconômicas vigentes.
No entanto, no lado social e humano, a dicotomia fica por conta de um viés que presa a liberdade individual, desprendida de valores éticos, morais, conforme as regras sociais. É liberdade que num piscar de olhos transborda pra libertinagem!
A saudável oposição
E precisamos da esquerda! Os partidos de esquerda promovem o equilíbrio e são o grito dos invisíveis. Eles cutucam e vigiam o poder e isso é extremamente necessário e salutar para oxigenar o sistema. Mas, precisam acordar para a realidade e apresentarem projetos que deem conta dos novos tempos e se alicercem em princípios que viabilizem a convivência pacífica.
Tem que haver espaço para o questionamento, desde que seja fundamentado e em comunhão com a maior parcela da sociedade, se – infelizmente – não for possível com toda.
Voto de protesto
Outra constatação que a gente não pode desconsiderar é o número de brasileiros que está de saco cheio e nem quis votar. Se somarmos os votos nulos, brancos e as abstenções chegamos aos incríveis 42.464.942 de brasileiros que deram as costas e deixam um recado amargo de que algo está errado. A insatisfação com a atuação dos políticos é latente e real. O grau absurdo da tal da corrupção revelou quase que um traço da personalidade desse pessoal. Fica até difícil dissociá-los e a população já não se engana mais.
Voto estratégico
Muitos eleitores que odiavam o PT do Haddad fugiram pro lado do Bolsonaro e o inverso é verdadeiro, diante dessas opções esses mais de 42 milhões de brasileiros nem quiseram fazer parte do processo eleitoral. Mas, querendo ou não, o que conta numa eleição é o resultado do número de eleitores e Bolsonaro teve quase 58 milhões de votos, consagrando-se o 38 º Presidente do Brasil.
Com isso o Brasil ganha certa estabilidade, e nós, esperança! A torcida tem que ser positiva! Muita gente fica antecipando uma possível tragédia no horizonte, mas, como só o peru morre na véspera de Natal, agora é unir forças e desejar que tudo corra bem! Sim, nós podemos fazer dar certo!