Já são três semestres escolares afetados pela pandemia. Os prejuízos para o desenvolvimento do aprendizado atingiram alunos de todas as idades e ampliaram diferenças que já existiam antes do fechamento das escolas.
Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, mostra os desafios impostos pela pandemia à educação no Brasil.
Fabiana Barbosa está preocupada com o filho, Gustavo, de 10 anos, que ainda não aprendeu a ler.
“A pandemia veio e ele ficou o ano inteiro sem fazer praticamente nada. Eu não tenho computador, ele não tem telefone, a gente também não tem internet, e ele ficou muito pouco tempo com a aula online”, disse Fabiana.
Já são três semestres escolares afetados pela pandemia. Os prejuízos para o desenvolvimento do aprendizado atingiram alunos de todas as idades e ampliaram diferenças que já existiam antes do fechamento das escolas.
Nas creches, entre os mais ricos, metade das crianças até 3 anos estava matriculada e só 26% das mais pobres. Antes da pandemia, metade das pessoas com idades entre 25 e 64 anos não tinha concluído o Ensino Médio.
O Brasil já estava bem atrás da média dos 37 países que participam da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Agora, perdemos os avanços que tínhamos conquistado nos anos anteriores.
“A gente está falando aqui de um aumento potencial de quatro vezes nas taxas de evasão, de a gente voltar dez, 15 anos nos indicadores de aprendizagem. Isso aqui é uma bomba social, uma bomba econômica”, definiu Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação.
Estas conclusões aumentam o peso da importância dos próximos meses para os rumos da educação no Brasil. Será possível recuperar o tempo perdido? Resgatar os alunos que abandonaram os estudos?
A superação de tantas dificuldades depende de investimento, planejamento e condições que permitam o retorno das aulas presenciais e de um jeito diferente do que costumava ser.
“É possível recuperar o tempo se perdido se algumas políticas forem bem implementadas. Acolhimento dos alunos, nova formação de professores, avaliação de aprendizagem dos alunos, processo de reforço e recuperação e mais esforço para os alunos que mais precisam, que são os mais pobres, mais vulneráveis”, enfatizou Priscila.
“Boa parte dos estados brasileiros ainda se encontra com as escolas fechadas. Em todo esse período, nós tivemos uma ausência de uma coordenação nacional, e não só para a retomada das aulas, mas também para realização de atividades no formato híbrido”, afirmou Vitor de Angelo, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação.
Daniele Silva espera uma solução para o filho Iago, de 5 anos.
“Quando eu não estou em casa, quando eu estou fazendo um bico de faxina, qualquer coisa que apareça, está sendo uma grande dificuldade de apresentar para ele todas as matérias porque eu não sei ensinar. Está sendo difícil para mim”, desabafou Daniele.