Cinco escolas brasileiras estão entre as finalistas da edição 2023 do prêmio internacional World’s Best School Prizes (em português, Prêmios para Melhores Escolas do Mundo), que distribui US$ 250 mil (aproximadamente R$ 1,2 milhão) entre as ganhadoras. Duas dessas escolas estão localizadas no Ceará, duas em São Paulo e uma em Minas Gerais.
Ao todo, mais de 1.200 escolas em todo o mundo se inscreveram para o prêmio, das quais apenas 50 estão entre as finalistas. Dos 26 países com escolas pré-selecionadas, aqueles com o maior número de instituições nesta etapa são Reino Unido, com seis escolas, e Brasil e Índia, empatados com cinco escolas cada.
Criado no ano passado pela T4 Education em parceria com a Fundação Lemann, Accenture, American Express e Yayasan Hasanah, o World’s Best School Prizes reconhece o papel desempenhado pelas escolas no desenvolvimento da próxima geração e sua contribuição para o progresso da sociedade, especialmente diante dos desafios impostos pela pandemia da Covid-19.
A premiação também valida práticas bem-sucedidas de escolas que transformam a vida de seus estudantes e têm feito a diferença em suas comunidades. O regulamento tem cinco categorias: Colaboração Comunitária, Ação Ambiental, Inovação, Superação de Adversidades e Apoio à Vida Saudável.
Vikas Pota, fundador da T4 Education e dos World’s Best School Prizes, destaca que todas as escolas selecionadas têm em comum uma forte cultura escolar, liderança inspiradora e excelência no ensino e na aprendizagem. “Escolas em todo o mundo aprenderão com a história dessas instituições brasileiras pioneiras e a cultura que elas cultivaram”, afirma.
Conheça as escolas brasileiras finalistas do World’s Best School Prizes:
Escola Municipal Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte (MG)
Reconhecida pelo trabalho transformador e pela defesa dos alunos e da comunidade do Aglomerado da Serra, uma das maiores e mais antigas favelas do Brasil, a escola Escola Professor Edson Pisani tem mobilizado estudantes, famílias, vizinhos, governo e líderes locais para promover práticas sustentáveis, reduzir o lixo e melhorar a qualidade de vida da comunidade. Finalista na categoria “Colaboração” Comunitária, a escola oferece educação infantil, ensino fundamental e programa de alfabetização de adultos.
Por mais de 100 anos, os moradores viveram sem direitos básicos garantidos, como água tratada, saneamento e transporte. No início dos anos 2000, a favela passou por várias obras no âmbito do programa Vila Viva, que incluíram a construção de uma nova estrada. Em 2013, o programa propôs uma segunda fase, que envolvia a ampliação da rua onde a escola está localizada e o deslocamento de muitas famílias.
Para garantir que arquitetos e engenheiros do projeto participassem das reuniões comunitárias, a escola rapidamente mobilizou a vizinhança, coletou assinaturas e estabeleceu parcerias com as faculdades de arquitetura e direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Isso evitou, ao final, que muitas famílias fossem removidas da região, como inicialmente proposto.
No entanto, o programa Vila Viva deixou detritos espalhados por toda a comunidade, criando áreas perigosas e causando aumento do lixo, infestação de pragas e doenças. Além disso, surgiu um problema relacionado às fontes de água na região. Mais uma vez, a escola se uniu à UFMG para criar o Projeto Água na Cidade, que estudou os problemas e mapeou pontos de abastecimento.
As obras resultaram na abertura de uma avenida com duas pistas, finalmente permitindo que um ônibus entrasse na favela. Como a prefeitura se recusava a criar uma linha de transporte, a escola fez uma parceria com o Movimento Tarifa Zero, mobilizando novamente a comunidade, com reuniões e coletas de mais de 4.000 assinaturas. Após dois anos de campanha, a linha de ônibus finalmente foi criada, conectando a favela ao metrô e proporcionando maior acesso a serviços de saúde, educação e emprego, garantindo assim o direito da população de ir e vir.
Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Jaime Tomaz de Aquino, de Beberibe (CE)
Escola pública, finalista na categoria “Ação Ambiental”, foi selecionada por realizar um trabalho que redefine o papel da educação para promover um futuro mais verde e sustentável.
Após sua construção, em 2019, a escola aderiu ao Programa Selo Escola Sustentável, da Secretaria de Educação do Ceará. O objetivo era implementar iniciativas voltadas ao currículo, gestão ambiental, espaço físico e educação socioambiental, buscando mudar hábitos antigos e promover ações ambientais que promovessem a qualidade de vida da comunidade.
No currículo da escola, são introduzidos temas como “Plástico Nocivo”, com o intuito de conscientizar sobre resíduos. Além disso, são oferecidas aulas de campo e oficinas que proporcionam experiências práticas na reutilização de garrafas, reciclagem de papel e criação de produtos ecológicos. A escola também participa ativamente de eventos e colabora com diversas organizações envolvidas na preservação da natureza.
No que diz respeito à gestão ambiental, a escola realiza campanhas de conscientização sobre o uso de energia e consumo de água, por meio de cartazes e reuniões de um grupo de trabalho. Além disso, há coleta seletiva de resíduos, reciclagem de papel e reutilização da água dos condicionadores de ar. O espaço físico da instituição também foi aprimorado com o plantio de árvores, jardins suspensos feitos de garrafas recicladas, telhados verdes e um protótipo de biodigestor.
Ativa nas redes sociais, a equipe também produz um programa de rádio dedicado a informações ambientais. Essas ações têm levado a um aumento na participação dos alunos em eventos e ao fortalecimento dos laços com ativistas ambientais. As práticas sustentáveis implementadas reduziram o consumo de água, aumentaram a captação de água da chuva e geraram adubo orgânico. De forma notável, ajudaram a reduzir o desperdício doméstico em aproximadamente 80%.
Camino School, de São Paulo (SP)
Escola particular e trilíngue (português, espanhol e inglês), busca preparar os alunos para o mundo real e enfatiza o desenvolvimento socioemocional. A escola é finalista na categoria “Inovação”.
Fundada em 2020, diferencia-se da abordagem tradicional marcada por aulas expositivas. As metodologias baseadas em projetos transformam aulas tradicionais em experiências de aprendizagem, chamadas de expedições.
Os alunos fazem perguntas, apresentam suas ideias, experimentam e compartilham suas dificuldades para resolver problemas. Ao mesmo tempo, a integração do desenvolvimento socioemocional à proposta pedagógica contextualiza as habilidades cognitivas, socioemocionais e éticas dos alunos, para que sejam capazes de transferir seu conhecimento para situações da vida real.
Entre 20% e 25% da população da escola é formada por bolsistas provenientes de origens indígenas, imigrantes, minorias étnicas e neurodiversas. Tal iniciativa representa um esforço para reduzir as desigualdades sociais, que também inclui a recente publicação do Manual para uma Escola Antirracista.
Escola Municipal de Educação Básica Prof.ª Maria Aparecida de Souza Almeida Ramos, de Jundiaí (SP)
A escola pública de educação infantil se destaca como um modelo de promoção de saúde, cuidado com o meio ambiente e engajamento comunitário. Ela é finalista na categoria “Apoio à Vida Saudável”.
Carinhosamente apelidada de “Peixinho”, a escola atende a uma comunidade vulnerável. Por essa razão, o programa de alimentação saudável é a base do seu Projeto Político-Pedagógico. A equipe mantém sua própria horta e a utiliza em diversas estratégias de ensino para despertar o interesse das crianças pelo plantio, colheita e preparo de alimentos. As famílias também adotaram a criação de hortas orgânicas em suas casas, seguindo as orientações da escola.
Para compensar o tempo que as crianças passam em frente às telas e a quantidade limitada de brincadeiras, a escola promove regularmente atividades ao ar livre. Folhas e sementes são utilizadas em produções artísticas, como mandalas.
Essas atividades também ensinam o respeito às diversas formas de vida encontradas ao redor da escola, como pequenos animais, plantas e insetos. Assim, cria-se uma conexão autêntica com a natureza, dando origem a projetos pedagógicos que envolvem desde cuidar de galinhas até construir um hotel para insetos.
Além disso, a escola tem um foco especial no cuidado ambiental e sustentabilidade, ensinando às crianças sobre compostagem, uso racional de água e colocando em prática ações de coleta e descarte adequado de materiais recicláveis.
Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal (CE)
A escola pública de ensino médio tem oferecido assistência aos estudantes desde o início da pandemia da Covid-19, com o objetivo de criar uma cultura de empatia em toda a comunidade escolar. Com uma queda de 67% no número de estudantes que necessitam de apoio social e emocional em apenas 18 meses, o projeto “Adote um Estudante” ampliou a conscientização sobre a importância da saúde mental dentro e fora do ambiente escolar. Por essa razão, a escola também foi escolhida como finalista na categoria “Apoio à Vida Saudável”.
Em uma comunidade na qual a violência é comum no dia a dia dos moradores, a escola começou a perceber novas ansiedades afetando os adolescentes à medida que a sociedade voltou ao presencial pós-pandemia. Dentro da própria escola, cerca de 6% da população estudantil foi diagnosticada com problemas emocionais graves, incluindo automutilação.
Como resultado, a escola desenvolveu o projeto “Adote um Estudante” para identificar alunos vulneráveis, fornecer assistência por meio de um psicólogo profissional e ajudar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dentro e fora de sala de aula.
Desde o lançamento do projeto, em setembro de 2021, menos de 10 estudantes continuam recebendo assistência. Aqueles que contaram com o apoio da iniciativa relataram melhorias na autoestima e bem-estar geral, resultando em melhor desempenho acadêmico. O engajamento da comunidade também é notório desde o início das atividades.
Como foi em 2022
Na primeira edição do prêmio, em 2022, três escolas brasileiras foram finalistas. A Escola Municipal de Educação Básica Professora Adolfina J. M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS), foi uma das três melhores na categoria Colaboração Comunitária. A escola criou um Comitê de Gestão Democrática para envolver pais e alunos na tomada de decisões sobre mudanças na escola.
Na categoria Superação da Adversidade, a escola Evandro Ferreira dos Santos, em Cabrobó (PE), também foi uma das três finalistas. A instituição se dedica à EJA (Educação de Jovens e Adultos) e oferece alfabetização para mães que não tiveram oportunidade de aprender a ler e escrever.
A Escola Técnica Professor Agamenon Magalhães, do Recife (PE), ficou entre as dez melhores na categoria Inovação. A escola desenvolve projetos de empreendedorismo social, como a produção de tijolos ecológicos, e criou o software Cangame, que auxilia alunos no espectro autista nos estudos e na comunicação.
*Com informações do site Porvir.org